A autora Audrey Niffenegger consegue me conquistar a cada livro com temas com os quais eu tenho muita restrição. Primeiro foi viagem no tempo em “A Mulher do Viajante do Tempo”, um romance ótimo, e agora fantasmas em “Uma Estranha Simetria”. Esse livro tinha tudo para eu nunca pegar em um livraria, a capa é muito esquisita e o tema é fantasma, mas como Niffenegger é a autora resolvi dar uma chance e não me arrependi.
A história gira em torno das gêmeas Julia e Valentina e o fantasma de sua tia Elseph. É um romance sobre o egoísmo, os personagens femininos são possessivos a beira da psicose. Em alguns momentos de Julia eu realmente achei que poderia acontecer algo como em “Mulher Solteira Procura” – referencia muito antiga? Dê uma olhada aqui. A fraqueza de Valentina é menos irritante mas é igualmente no limite da doença. Todos os personagens estão nesse limite ou, no caso de Martin, muito além dele.
A primeira premissa da história, a da brincadeira entre irmãs gêmeas idênticas que passam a vida a enganar as pessoas trocando de identidade é boa, mas é deixada de lado em algum momento. O livro seria bem mais rico se a história de Elseph e Edie fosse melhor explorada ou invés de ser toda contada em uma carta em um capítulo lá para o final do livro. Elseph é a protagonista e a vilã da história, sua capacidade de manipulação para se manter presente e viva é enorme. O talento de Niffenegger é mais explicito no desenvolvimento desta personagem, ela consegue enganar o leitor com a aparente inocência do fantasma, sua luta para permanecer existindo, é só no final que descobrimos que havia algo mais em suas intenções e que nem mesmo a vida da filha é empecilho para a realização de seus desejos.
Os personagens masculinos são todos fracos. Martin é dominado pela mulher e por Julia, Jack que seria um personagem riquíssimo quase não aparece e Robert é o mais fraco de todos. Robert é dominado por Elseph em vida e em morte, seu relacionamento com Valentina nunca parece muito real. Em um dado momento ele diz que os motivos de Elseph não são sempre claros, mas mesmo assim ele segue obedecendo suas ordens. É verdade que no fim ele toma uma decisão bastante acertada, mas é muito mais por remorso do que por coragem ou determinação.
“Uma Estranha Simetria” é um bom livro, Audrey Niffenegger prova que é uma autora talentosa, mas “A Mulher do Viajante do Tempo” continua sendo seu melhor livro.
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