Resenhas

Vamos falar sobre suicídio

O tema dói, mas dói mais as consequências de não abordá-lo

Existem livros incríveis no universo Jovem Adulto (meu amado YA) que abordam o suicídio. E quando digo “incríveis” não me refiro somente aos personagens bem construídos ou a trama bem amarrada. Meu ponto aqui é o seguinte: ser adolescente é complicado. E ser adolescente com algum tipo de distúrbio é mais complexo ainda.

Ter um diagnóstico como depressão ou bipolaridade não é vergonha, é doença! E para doença existe tratamento, e o apoio dos familiares e amigos é parte essencial desse caminho para a estabilidade emocional. Mas muitas pessoas não entendem essa guerra interna que é travada silenciosamente por tanta gente, ao redor do mundo. E essa guerra fere sem parar, mutila, dilacera ao ponto de que a pessoa se sente sozinha, desesperada ao ponto de abrir mão da própria vida. Mas livros podem ajudar! Não, não serei leviana e dizer que ler um livro salva uma vida. Quem dera! Mas refletir sobre o que lemos nos ajuda a olhar ao nosso redor de uma forma diferente e esse novo olhar pode, sim, salvar vidas. Ao menos nos auxilia a identificar alguns sinais e a consequentemente poder ajudar alguém.

Escrevi tudo isso para abordar o livro “Os 13 porquês”, de Jay Asher.  O livro foi uma indicação da minha amiga Carina durante uma edição do Clube do Livro Saraiva, durante a qual eu abordei o tema.

“Os 13 Porquês” é narrado parte por Hanna Baker e parte por Clay Jensen, um rapaz que ao regressar um dia da escola, encontra na porta de sua casa um misterioso pacote endereçado a ele. Ao abrir, Clay se depara com várias fitas cassetes ordenadas. Nelas, Clay ouve a narração de Hannah (entendeu porque o “co narrado”?), uma garota que cometeu suicídio duas semanas antes. Nas fitas, Hannah explica que existem treze motivos que a levaram à decisão de tirar a própria vida e quem está ouvindo as fitas é um deles.

Então o livro passa com um certo peso, pois sabemos que Hanna já não está mais conosco. E a cada momento triste, frustrante, de violência ou indiferença narrado por ela, sentimos a angústia de Clay nessa macabra jornada para descobrir como contribuiu para esse trágico acontecimento.

Antes de receber as fitas, Clay explica ao leitor que sente-se culpado pelo falecimento de Hanna, pois gostava dela e acha que poderia ter feito alguma coisa para ajudar. Essa culpa de sobrevivente, essa assombração chamada “mas e se eu tivesse” é horrível! E achei necessário o autor tocar nesse assunto, porque suicídio não leva apenas uma vida, mas abala inúmeras outras e por variadas razões.

“Os 13 porquês” é muito bem escrito e provocou em mim uma reação muito curiosa. Conforme Hanna vai nos contando as situações que a levaram à cometer suicídio, vamos de sentir pena e tristeza a acusá-la pelo ato. Eu explico. Em alguns “porquês”, eu me peguei pensando “que absurdo! Não está vendo que a está machucando? Para!” e em outros “Hanna, você é maravilhosa, não dê ouvidos para eles. Sai dessa!”. Mas em outros motivos, vi que a cabeça de Hanna já estava decidida e que ela culpa essa decisão em atos isolados. Aí eu comecei a julgá-la. E esse processo foi todo muito natural, o que me assustou bastante. Porque eu – leitora – me encaixei em tantos alunos que estudavam com Hanna. Eu julguei sem a conhecer. Eu julguei quando deveria ter perguntado a ela como estava ou somente não aderindo ao bullying. É tão fácil sermos um instrumento que fere os outros. Basta não fazermos nada … não fazer nada e julgar. Isso é perigosamente simples e parte do nosso dia a dia. Esse aspecto do livro me deixou chocada.

Embora eu já tenha lido outros livros sobre o tema que me impressionaram mais, “Os 13 porquês” é um soco no estômago, não somente por ser trágico ou detalhista na angústia de Hanna, mas por ser tão verdadeiro. Não somente personagens que abusaram física ou psicologicamente de Hanna são “culpados”, mas quem foi indiferente, quem deveria ter se envolvido quando ela pediu ajuda, mas não a levou a sério. Isso, gente, é muito real e igualmente preocupante.

Ao meu ver, é preciso falar sobre o tema. A ignorância não é uma bênção, é um monstro que destrói e, ao evitar certos assuntos polêmicos – com o  suicídio, por exemplo -, alimentamos esse monstro. Ler ajuda a entender, a nos colocar no lugar do outro. Então fica a dica de leitura: “Os 13 porquês” machuca, mas é necessário.

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3 thoughts on “Vamos falar sobre suicídio
  1. Oi Frini!
    Lembro que quando você indicou esse livro no Clube do livro e tinha acabado de pegar emprestado com uma amiga. Eu também senti várias coisas enquanto li esse livro. Mas principalmente revolta tanto pelas pessoas que machucaram ela, como pelas que não fizeram nada. Acho um absurdo as pessoas não quererem falar sobre esse tema, deixar tudo embaixo da mesa, como se não existisse. Vi algumas matérias e relatos de alguns autores que abordam esse tema falando sobre o preconceito e dificuldade de pais e escolas perceberem a importância de falar sobre esse tema.
    Ótima resenha, como sempre <3
    Ansiosa para o próximo Clube!

    beijos

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