A ótima distopia feminista de Margaret Atwood.
Adoro distopias, a idéia de ver como outras pessoas imaginam o futuro do mundo e como autores imaginam o pior cenário para a humanidade. Tudo acabou e o que a humanidade resolveu fazer para recomeçar. Isso sempre me instiga a começar a ler e esses livros meio que caem no meu colo. Foi assim com “Handmaid’s Tale” (O Conto da Aia) de Margaret Atwood, um grande amigo postou algo sobre o livro no Facebook e eu comprei no Kindle.
O romance de Atwood foi lançado em 1985 mas tem trechos tão atuais que chega a ser assustador. Um grupo de cristãos conservadores arquitetam um grande golpe de estado que começa com o assassinato do presidente e de todo o congressos dos EUA. A culpa pelo atentado é colocado em terroristas islâmicos e um estado de exceção é declarado. Uma nova ordem é construída, uma sociedade em que as mulheres não tem mais direitos e em que o sexo tem como único objetivo a reprodução.
A historia é contada em primeira pessoa por Offred, uma Handmaid, ou seja, uma das mulheres que tem como função ter filhos dos homens que governam Gilead. O livro é um relato das memórias de Offred onde ela conta não só sua vida como Handmaid mas também sua vida anterior, fala de seu marido, Luke, de sua filha, de sua mãe e como as mudanças foram ocorrendo até que o Gilead fosse completamente implementado.
Tudo é contado em uma torrente de memória em que histórias de Offred como handmaid se misturam com o passado mais distante, como as mudanças ocorreram, como as mulheres foram perdendo autonomia. Toda a história é um pouco angustiante e vai piorando do meio para o final. Os acontecimentos tornam-se mais opressores e as saídas desaparecem. A intenção de Atwood é exatamente essa e ela executa com perfeição.
Toda a distopia quer debater possibilidades de futuro e se baseia nos absurdos do hoje para projetar o pior do amanhã. O assustador aqui é que as projeções feitas em outro século, o livro é de 1985, são tão atuais. As questões parecem não mudar ao longo do tempo, o fanatismo religioso, atentados terroristas, os direitos da mulheres. O futuro de Atwood pré-Gilead é cheio de medo e violência contra as mulheres, ela pinta um cenário onde o que aconteceu com Malala Yousafzai é mais do que possível. Um futuro terrível, mas que reflete, em parte, os tempos de hoje. Nesse futuro ela coloca um pouco de culpa na tecnologia por facilitar o golpe, fala de um mundo em que todos fazem pagamentos sem troca de dinheiro ou cartão, algo como o google wallet ou outros mecanismos de pagamentos eletrônicos que estão sendo implementados.
“Conto da Aia” é uma distopia menos badalada mas é uma das melhores distopias que li.
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