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A Torre Negra

Não é exagero afirmar que a adaptação da saga A Torre Negra, de Stephen King, para o cinema era uma das mais esperadas. Só que esse é um projeto muito ambicioso porque se trata de oito livros que foram escritos no decorrer de mais de 20 anos. Para complicar mais, a saga não se trata de uma história fácil, ela tem muitas nuances, tanto sua trama quanto seus personagens, já que é uma dark fantasy que mistura ficção científica, terror e western. Com muitas referências à clássicos de todos esses gêneros, além de muitas citações a obras e personagens dentro do universo do King. Desde o anúncio que a adaptação ganharia vida no cinema até sua estreia, muita coisa aconteceu, desde o projeto ter sido engavetado várias vezes, até o diretor, Nikolaj Arcel, perder controle do filme para o estúdio. O próprio Arcel reconhece que essa é uma saga quase impossível de ser adaptada.

A partir da escolha do elenco, Idris Elba como Rolland Deschain e Matthew McConaughey como Randall Flagg ou Walter o’Dim (um dos vilões mais assustadores que King já criou e que passeia por várias de suas obras), tudo parecia correr muito bem, só que conforme o filme ganhava forma, os problemas apareciam. A Torre Negra (The Dark Tower, EUA, 2017) não seria adaptação de nenhum dos livros da saga e sim uma história introdutória ao universo dos livros, mas que acontece DEPOIS de tudo. Os trailers começaram a surgir e ficou bem claro que aquele seria um filme realmente baseado livremente, lá de longe, na série de livros.

Uma semana antes do filme estrear nos EUA surgiam matérias contando como o filme foi retalhado, modificado, como Arcel era “difícil” e que o produtor Ron Howard teve que intervir. Pânico foi o sentimento que tomou conta dos fãs que estavam muito curiosos e frustração foi o sentimento que ficou depois de ver a obra pronta.

Já afirmei várias vezes, em outras resenhas, que subestimar o público é o pior negócio. Adaptar um livro por causa do hype e apenas por isso nunca deu certo, para ninguém, pro estúdio e nem pros fãs. Porque qualquer um que tenha lido todos os livros da saga sabe que era um trabalho de louco tentar levar tudo aquilo pro cinema, é um projeto muito ambicioso, complexo e voltado para um público específico mas com enorme potencial de conquistar uma audiência maior, se bem orquestrado. Nada disso aconteceu com o filme que chega aos cinemas essa semana.

A Torre Negra é um filme confuso, principalmente para quem não faz ideia de quem são aqueles personagens na tela, além de chato, porque não inova em nada, repete uma fórmula boba muito usada nos filmes adolescentes dos anos 1980 e tenta enfiar goela abaixo do público. A trama é centrada em Jake Chambers (Tom Taylor) que vive em Nova York com sua mãe e o padrasto. Seu pai era bombeiro e morreu em uma explosão. O menino tem pesadelos com um Homem de Preto, Walter o’Dim, que usa a energia de crianças ligadas a uma máquina para destruir uma enorme Torre Negra. Até que, em seus sonhos, Jake descobre que existe o último pistoleiro, Rolland Deschain, capaz de destruir o Homem de Preto, ao mesmo tempo que percebe que tudo aquilo é real e que os dois vivem em um mundo paralelo à Terra.

A produção é recheada de easter eggs do universo do Stephen King e apela forte pro fanservice, com afirmações sobre Jake ser iluminado, que aqueles são territórios diferentes da Terra, ter um parque de diversões abandonado no meio de um bosque no mundo de Rolland, deixando a pista de que aquela terra devastada seria o mundo do King. Se essas referências fossem usadas de forma sútil ou fizessem sentido para a trama, seria uma ótima sacada. Mas não, elas são jogadas dentro da história e só fazem sentido para quem é fã do escritor. A história foi muito enxugada criando um filme fraco para quem é fã da Torre Negra e sem nenhum sentido pra quem nunca leu.

Idris Elba, Matthew McConaughey e Tom Taylor estão muito bem em seus papéis. McConaughey e Elba transmitem com competência todo o ódio que existe entre os personagens e se entregaram muito bem a eles. Mas há dois pontos fracos, o primeiro que só consigo perceber isso porque sei como eles são no livro, como funcionam. Segundo que não há empatia entre o público e os personagens na tela, porque os relacionamentos são construídos de forma muito superficial. Jake se afeiçoa a Rolland porque perdeu a figura paterna, super óbvio isso. E Walter é muito mal porque ele é muito mal e pronto.

Com certeza ter apenas 95 minutos de duração é um outro problema, porque o filme corre pra contar sua história, que deveria ser um pouco mais elaborada. Os cortes do filme são bem claros e personagens secundários estão ali sem nenhuma explicação mas também não importa muito. Não é um filme terrível, porque sua história prende a atenção, apesar de confusa, e tem como base um universo muito bem construído, mas é um filme preguiçoso que tenta arrebanhar os fãs de King como uma caça-níqueis e no fim acaba frustrando e provocando raiva. Ele definitivamente subestima o público, o que é triste, muito triste. Ainda espero que a série para televisão aconteça, mas que o filme sirva de parâmetro sobre o que não fazer.

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