Coluna

É preciso reler os clássicos brasileiros

“Você nunca entra no mesmo rio”, diz aquele antigo ditado. O conceito é simples, as águas do rio passam constantemente, então você jamais consegue se banhar no mesmo rio, mesmo que tenha passado apenas dez minutos do último mergulho. Uma metáfora de que todas as experiências, mesmo que com um ponto em comum, sempre serão diferentes.

A mesmíssima coisa acontece com livros. Cada vez que eu releio um livro que tenha gostado, a experiência da leitura é única. Às vezes passo a gostar mais da história, às vezes menos, quase sempre encontro pontos que não pareciam importantes antes, mas que parecem muito significativos agora. Eu sou uma entusiasta de releitura, mesmo (ou especialmente) de livros que você não tenha gostado. Dê uma segunda chance, quem sabe você é que não era a pessoa certa para aquele livro naquele momento.

Dito isto, eu sempre repito: É preciso reler os clássicos. Sabe, aqueles que são leitura obrigatória na época da escola. Leitura obrigatória, que conceito ruim. Sempre me irritou alguém ter que me obrigar a ler um livro. Ou ele me interessa, ou não. Mas na época do colégio não é bem assim. Lembro de ter lido “A Hora da Estrela” e odiado. Odiei tudo. A trama, o desfecho, tudo que envolvia Macabéa. Era o meu primeiro contato com Clarice Lispector e eu devia ter uns onze ou doze anos. Odiei. Fiquei por anos Odiando e não dando chance pra nenhum dos livros dela. Ah, o horror. Que pecado.

O Cortiço, detestei, tive ânsia de vômito. E não entendi nada que Aluísio Azevedo quis dizer. José de Alencar, os seus detestei todos. O homem ficava páginas e páginas descrevendo um sapato ou uma cortina, e o meu eu adolescente tinha vontade de dormir, ou de dar na cara dele. Os únicos que realmente me conquistaram à época da escola foram Machado de Assis e Lima Barreto.

Muito tempo depois de me formar na escola me deparei com aqueles livro na minha estante. Queria jogar fora, mas tive pena. Então dei uma chance à releitura. Que mundo maravilhoso se abriu a mim. Agora com experiências diferentes e uma cabeça mais madura consegui compreender as histórias, os personagens, me apaixonei por Macabéa, me compadeci dela, quis conhecer mais de Clarice Lispector. Absolutamente não era o mesmo rio de conhecimento em que eu me banhava.

Veja só, eu não estou aqui dizendo que os jovens não tem mente formada para ler os clássicos, ou que eles deveriam deixar de ser leituras durante o colégio, reconheço que lê-los foi importante para a minha formação, mas só consegui compreendê-los de verdade além das recomendações de “livro texto” quando os reli por iniciativa própria. E que delícia foi ver a história do nosso país sendo contada através da literatura, os retratos da nossa sociedade. Se você ainda não deu uma chance aos seus antigos clássicos empoeirados que você deixa na estante só pela memória dos rabiscos feitos na contracapa à época da escola, ouça o meu conselho: vá lá rever os personagens do nosso país. A experiência é, sem dúvida, engradecedora.

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