No Dia Nacional do Livro Infantil entrevistamos o escritor brasileiro Marcelo Amaral. Marcelo é um dos bravos novos autores que se dedica a escrever para o publico infanto juvenil, tarefa árdua de colaborar para a formação de novos leitores. Como ele diz nessa entrevista “Livros não são um amontoado de letras e figuras, são experiências. Transforme a leitura num filme dentro da sua cabeça. Viva o livro.”
Cheiro de Livro: O que te levou a escrever para crianças?
Marcelo Amaral: Acho que o fato de eu ter esquecido de crescer ajudou um pouco… rsrs
Ok, falando sério agora, eu me identifico muito o público infantil / jovem. Até hoje gosto muito de sentar para assistir as coisas que eles assistem, jogar o que eles jogam, ler o que eles lêem. Então as referências são as mesmas e eu ainda junto com aquelas que experimentei quando tinha a idade deles, nos formidáveis anos 80. Então para mim é algo meio natural enxergar o mundo um pouco como eles enxergam e querer criar histórias divertidas para eles, mas sem deixar de tocar em temas que considero importantes, como família e amizade.
Cheiro de Livro: Se tornar pai influenciou a sua escrita? Se sim, como?
Marcelo Amaral: Influenciou muito, principalmente a falta de tempo para escrever! Mas isso eu vou superar… rsrs
A Manu acabou de completar 9 meses, então eu ainda não tive muito tempo para avaliar o impacto dessa mudança na minha escrita. Mas ter uma filha certamente ampliou meus horizontes. Eu aprendo com ela todos os dias e é tudo tão inspirador que acabou resultando nas tirinhas “Ser Pai de Menina é“. Graças à Manu acabei atingindo um público novo: os adultos que já têm filhos ou que estão esperando.
Mas eu acredito que, com o tempo, a convivência com a Manu me fará querer explorar ainda mais o universo infantil. Meu sonho é criarmos histórias juntos. Quem sabe?
Cheiro de Livro: Qual foi o livro que leu quando pequeno que mais te marcou?
Marcelo Amaral: Lembro que no começo eu não era muito fã dos livros, gostava mais de quadrinhos. Eu detestava os livros que a escola me obrigava a ler até que um deles realmente me tocou: foi “Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva. Foi a partir daí que eu passei a buscar minhas próprias leituras. Outro livro que não posso deixar de citar é “O Parque dos Dinossauros”, de Michael Crichton. Esse eu li na adolescência logo após ver o filme e me transformou em um leitor voraz de ficção e fantasia. Foi com esse livro que descobri que a experiência da leitura é bem mais completa e imersiva do que ver a adaptação para o cinema.
Cheiro de Livro: O que acha que falta no mercado infantil e juvenil hoje?
Marcelo Amaral: São dois mercados bem diferentes. O mercado do livro infantil me parece muito mais difícil para o autor estreante, pois a oferta é enorme e a compra é decidida por pais e professores, não pela criança. Por isso opta-se muito por comprar / adotar / publicar aquilo que já é consagrado ou premiado. O que salva são os editais do governo para adoção de livros para distribuição em escolas. Os novos autores investem muito nesses editais, criando histórias dentro dos temas propostos. Os prêmios e concursos também são importantes; quem quer entrar nesse mercado de literatura infantil precisa ficar de olho neles.
O mercado juvenil está bem mais aquecido e é muito mais receptivo a novos autores. Afinal, o jovem escolhe o que quer ler. Ele junta o dinheiro da mesada e compra o livro. Ele tem acesso à Internet, acessa blogs e lê resenhas. As editoras vêm apostando cada vez mais em novos autores nacionais, o que é muito bom. Podem apostar ainda mais. E o mais legal é que esses autores não concorrem entre si. O jovem lê o livro da Thalita Rebouças e, enquanto não sai o novo livro dela, ele vai ler Paula Pimenta e vice-versa. Para um leitor voraz, quanto mais livros de qualidade forem publicados, melhor.
Cheiro de Livro: Quais os maiores desafios de escrever para crianças? E quais as maiores recompensas?
Marcelo Amaral: O público infanto é muito exigente. As pessoas acham que escrever para crianças é fácil. Se o autor pensa assim é melhor ele nem começar. Justamente por ser um leitor em formação, tudo tem que ser muito bem pensado e planejado: o tom do livro, a mensagem, a linguagem, a escrita. Sua história não pode ser boba, deve ser inteligente, pois seus leitores são muito espertos. É bom lembrar também que pais e professores são decisivos e devem ser cativados pela qualidade do seu trabalho. Afinal, são eles que farão seu livro chegar até as crianças.
A recompensa vem na sinceridade do seu público. Crianças não têm papas na língua, nem são hipócritas: se gostarem do seu livro e de você, elas vão te amar. Mas se não gostarem de você ou do seu livro, vão dizer na sua cara: “seu livro é uma porcaria”. Da mesma forma, pais e professores também se tornam seus fãs. Passam a confiar em você e a ter certeza de que o seu trabalho tem qualidade e merece ser lido por seus filhos e alunos.
Cheiro de Livro: Como criou a turma da Página Pirata?
Marcelo Amaral: Tudo começou com a Pastilha e o Piolho, que nasceram antes mesmo da história de Palladinum. Eu tinha a ideia de fazer um livro infantil sobre uma menina que vivia doente e um garoto que não gostava de tomar banho, mas esses personagens lutaram para estar na grande aventura passada na terra dos Sonhos e Pesadelos que eu também já vinha lapidando. Foi então que decidi criar uma turma de jovens no estilo Goonies, Os Karas e Caverna do Dragão. Assim nasceram Paçoca, Pimenta, Pinguim, Princesa e Peteca, cada um com sua própria personalidade e um papel importante na trama e dentro do grupo. A ideia de uni-los através de um jornalzinho escolar impresso me pareceu interessante justamente por ser meio nostálgica se pensarmos nos dias atuais onde tudo é digital e online.
Cheiro de Livro: Tem alguma dica para os pequenos leitores?
Marcelo Amaral: Eu acho que eles devem ler muito, um pouquinho de tudo. Devem dar uma olhada nos livros que os pais têm em casa. Perguntar aos pais e aos irmãos se eles têm algum livro para recomendar. Foi assim que descobri algumas ótimas leituras quando era mais novo.
A outra dica é para quem ainda não é muito fã dos livros: não leia só por ler. Livros não são um amontoado de letras e figuras, são experiências. Transforme a leitura num filme dentro da sua cabeça. Viva o livro. Imagine cada cena. Emocione-se com os personagens e faça deles seus amigos. Vocês vão ver que o que parece ser chato pode se tornar muito mais divertido com um pouco de treino. É como andar de bicicleta, quanto mais a gente treina, melhor fica. Com a leitura não é diferente.
Cheiro de Livro: Quais os seus próximos projetos?
Marcelo Amaral: Eu tenho duas séries que amo muito: Palladinum e a coleção Turma da Página Pirata. Palladinum 2 vai sair um dia (eu juro!) e já estou trabalhando no terceiro volume da Página Pirata. Além disso estou trabalhando em mais um projeto infantojuvenil e querendo muito transformar “Ser Pai de Menina é” em livro. Tenho muitas outras ideias, queria poder me dividir em dois, três… Isso seria ótimo!
Posso falar com toda certeza que as crianças amam o trabalho do Marcelo Amaral.
Conheci o trabalho dele através de uma colega de trabalho….
Levei o trabalho dele para minha sala de aula e confesso que não foi só as crianças que se tornaram fã dele, a professora tb…rsrs…
Os livros dele são ótimos…
Parabéns Marcelo! Pelos livros, pela tirinhas e pela filha linda!!!