Livros Resenhas

Fifty Shades of Grey, a trilogia

 

Tenho como hábito ler, de tempos em tempos, a lista dos livros mais vendidos do jornal americano The New York Times. Há algumas semanas o número um da lista era “Fifty Shades of Grey”. Quando li ele estava há duas semanas nessa colocação e os demais apareciam entre os 20 mais vendidos, hoje ele já está há cinco semanas e os dois outros livros já subiram para a lista dos cinco mais vendidos. A curiosidade bateu e fui pesquisar sobre o livro, de cara surgiu essa matéria, do mesmo New York Times, falando sobre essa trilogia. Nos dias que se seguiram começaram a surgir notícias sobre o novo fenômeno literário, sobre a venda de direitos para o cinema e a disputa para a publicação da trilogia nos mais diferentes países. Respirei fundo, peguei meu kindle e baixei a trilogia escrita por E L James.

Tinha uma vaga ideia do que iria ler, sabia que era classificado como literatura erótica e que começou como uma fanfic de “Crepúsculo”.  E L James acrescentou a esse dois ingredientes um pouco de sadomasoquismo e criou um fenômeno literário. “Fifty Shades” é o primo glamourizado de “Jessica”, aqueles livrinhos que são vendidos na banca. A profundidade da historia é a mesma só as cenas sensuais que ganham um tempero a mais.

Minha única referência para esse tipo de literatura é um livro da coleção Fuego da Harlequin. Lido depois de um papo muito do divertido com a Vivi Maurey em que ela disse que valia a leitura para conhecer e para se divertir, porque o texto era tão ruim que dava vontade de rir. Ela sugeriu um com vampiros, mas estava esgotado e eu acabei com um com paranormais. O texto é bizarro mesmo, de dar risadas como a Vivi disse. Tendo esse livro como parâmetro parti para a trilogia.

O enredo é bem básico, jovem universitária, Anastacia Steele, conhece por acaso um mega empresário misterioso, Christian Grey, que se apaixona por ela. Christian é apresentado igual ao Edward de “Crepúsculo”, mas aqui ao invés dele ser vampiro ele busca alguém para ser submissa a ele nos seus jogos sexuais. O primeiro livro é basicamente isso. São os dois se conhecendo e acertando os termos de um acordo para que Anastacia seja submissa. As cenas de sexo são um pouco mais quentes do que as dos livros tipo “Jessica”, estão mais para a coleção Fuego da Harlequin, só que aqui envolve algemas, chicotes, vibradores e um Red Room of Pain.

O ponto mais polêmico da trilogia é, provavelmente, as chicotadas e o espancamento. Durante todos os livros é defendido que os dois são adultos e o que eles fazem entre quatro paredes faz parte de um acordo entre eles, com regras predefinidas. E L James não trata esse aspecto de seu livro como uma polêmica, mas justifica bastante ao longo dos três livros.

O segundo livro, assim como em “Lua Nova”, começa com os protagonistas separados. Isso não dura muito e eles voltam a se envolver. Para que a história não continue na mesma, surgem dois personagens que vão atormentar nossos heróis. Uma em “Fifty Shades Darker”e o outro só no terceiro livro “Fifty Shades Freed”.

Na verdade, esses personagens aparecem como uma ameaça muito mais para uma desculpa narrativa para que Christian mostre toda a sua loucura por controle e sua fixação em Anastacia. Essa obsessão por controle é completamente creepy e a autora passa os três livros tentando justificar esse traço de Christian. Ela mostra traumas de infância e situações perigosas, mas nada justifica o nível de paranoia do personagem. Anastacia até tenta debater o problema mas sempre cede.

Anastacia tinha tudo para ser uma boa personagem, decidida e independente, mas é tudo mentira. Ela até tem uns embates, mas é incapaz de resistir a Christian. E depois de três livros esses confrontos ficam repetitivos e sem nenhuma surpresa para o leitor.  Anastacia tem um quê de Bella Swan mesmo, entra no mundo de Christian e se torna apenas uma sombra do que poderia ter sido. No ultimo livro ela mostra um pouco de coragem e tem até um bom  momento, mas aí a trilogia já está no fim e o leitor fica sem saber se ela cedeu mais uma vez ou não.

Christian deveria ser um personagem melhor construído, tem um trauma infantil à la Dexter e a autora tenta, todo o tempo, justificar suas ações com esse trauma. O que acontece é que ele é sedutor como um vampiro e, por falta de melhores palavras, creepy e kinky. Por incrível que pareça ele também o único personagem coerente na trama.

A chegada de “Fifty Shades” ao topo dos mais vendidos pode ser, como fala o artigo do New York Times, um efeito colateral dos e-readers. Uma vez que ninguém sabe o que você está lendo mais pessoas passaram a comprar literatura erótica. Isso pode até ter colaborado, mas não podemos esquecer que esse segmento só faz crescer e tem um público fiel. A melhor comparação é com a indústria dos filmes softporn, todo mundo sabe que ela existe, que dá dinheiro, mas não é considerado cinema de qualidade. O mesmo se aplica a literatura erótica. Vejo “Fifty Shades” como “Nove e meia semanas de amor”, faz sucesso mas não é bom. Teremos filmes, já foi fechado um acordo com a Warner, e a trilogia chega ao Brasil esse ano pela editora Intrínseca.

atualização em 11/06

A editora Intrínseca já anunciou os nomes dos livros em português, são eles: “Cinquenta Tons de Cinza”, “Cinquenta Tons Mais Escuros” e “Cinquenta Tons de Liberdade”. O primeiro volume da trilogia chega às livrarias com 200 mil exemplares.

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21 thoughts on “Fifty Shades of Grey, a trilogia
  1. Ótima resenha sobre essa trilogia.
    Quero só ver como essa série será recebida aqui no Brasil.
    Em relação aos filmes espero que escolham bem os atores.
    bjs

  2. Adorei essa resenha, descobri sobre essa trilogia pelo site da Saraiva e me empolguei, pois eu curto o genêro de literatura erótica. Porém, percebi muitas criticas negativas em relação aos livros, oque me interessou ainda mais pra saber como essa história é desenvolvida. Encomendei os 3 livros!!!

    1. A edição brasileira dos ebooks já está a venda em livrarias online brasileiras. Nós do CdL lemos a versão original comprando os ebooks na Amazon.

  3. Adorei a resenha e é exatamente o que sinto ao término da leitura da trilogia, toda a expectativa que tive no decorrer do primeiro livro se tornou uma leitura dinâmica nos volumes seguintes. Tinha esperança de ler algo um pouco mais interessante.

  4. Você poderia, por favor, me informar qual é o nome da fanfic criada pela E. L. James para se inspirar e fazer os livros?
    Gostei da sua visão do livro e ao ler os três não consegui de deixar, em nenhum momento, de comparar a trilogia com a saga Crepúsculo.

  5. Achei perfeita a resenha. Li o primeiro livro sem pensar em outra coisa, o segundo li achando um pouco menos intenso e o terceiro só terminei porque queria saber como acabava. Pulava parágrafos inteiros deste último. Não dava pra aguentar a insegurança da Ana com intermináveis frases de sobre como ela adorava os cinquenta tons de Christian, descrevendo quase que todos eles, depois de ele ter ganhado uma discussão, não com argumentos, mas com seu charme sobre ela…. realmente chato!!!!

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