Nelson Rodrigues é um cronista de futebol único, suas peças revolucionaram o teatro brasileiro e até como mulher ele é ótimo.
Nelson Rodrigues é um dos meus autores favoritos. Ler futebol através de seus textos é apaixonante, ver a as relações humanas em seu “A Vida Como ela É..” é fascinante, suas peças mudaram o teatro nacional e, até , como Suzana Flagg ele é imbatível.
Como muitos dos autores nacionais conheci Nelson no colégio. Era um curso extra sobre “Vestido de Noiva”, o curso tinha esse objetivo mas na verdade era sobre a obra de Nelson. Foi em um xerox bem ruim que li pela primeira vez as crônicas de futebol. Li também “Vestido de Noiva”, um marco do teatro nacional, são três níveis na peça: o da alucinação, o da memoria e da realidade. Sei que o teatro de Nelson é maravilhoso, vi alguma encenações, mas teatro não é muito a minha praia.
O que me seduziu mesmo foram as crônicas de futebol, é verdade que o fato dele ser tricolor como meu ajudou, mas é bem mais do que isso. A crônica sobre a final da Copa de 1970 é primorosa, não sei se é porque foi a primeira que li, mas é a que me vem a cabeça quando alguém me pergunta sobre Nelson. Os personagens que ele criou, o sobrenatural de Almeida, a grã fina com narinas de cadáver, e tantas outras expressões que se eternizam na crônica esportiva. Ele também fez parte da primeira mesa de futebol da TV, infelizmente, não sobrou uma imagem dessa empreitada.
As crônicas de futebol foram só o começo, depois li o ótimo “Engraçadinha” e me apaixonei de vez. Em seguida foi a vez de “A Vida Como Ela É”, lia e assistia as ótimas adaptações no “Fantástico”. As histórias de traição e morte no subúrbio carioca são geniais.
Já era fã do texto de Nelson quando li a ótima biografia “O Anjo Pornográfico”. Nelson é de uma família de jornalistas e teve uma vida repleta de grandes tragédias. O assassinato de um irmão por engano, a destruição da fortuna da família na era Vargas, doenças. Aconteceu de tudo na vida dele. A biografia só me fez gostar ainda mais de Nelson Rodrigues. Foi nesse momento também que descobri Suzana Flagg, pseudônimo criado para assinar folhetins. “Escravas do Amor” é pura diversão. Os capítulos eram publicados aos poucos e por isso a cada final tem um grande suspense, um cliffhanger mesmo.
Nelson Rodrigues é desses escritores com fama de maldito, que todo mundo cita, mas nem tanta gente assim leu. Em matérias de esporte, seja em jornais ou na TV, volta e meia ele é citado. Morreu na década de 1980, mas continua vivo como referência.