Em que o autor desta obra singular revela ao leitor como se convenceu de que o Fantasma da Ópera existiu de verdade
Essas são as primeiras linhas do livro “O Fantasma da Ópera”, de Gaston Leroux, que ganhou uma edição linda da Zahar, que conta com uma capa deslumbrante e apresentação de Rodrigo Casarin.
Decidi começar essa resenha destacando as primeiras palavras do livro por duas razões: a primeira é que eu não me lembrava de o livro começar assim. Quando li “O Fantasma da Ópera” pela primeira vez, tinha 14 anos e já era apaixonada pela história. Amava o musical da Broadway (mesmo sem tê-lo visto ao vivo. Só fui ao musical com 15 anos e, desde então, já repeti a dose outras 3 vezes, sendo duas em São Paulo), tinha visto todas as adaptações para o cinema, inclusive a primeira, ainda muda e estrelada pelo incrível Lon Chaney, mas nunca tinha lido o livro. Desde meus 14 anos, li o Fantasma mais duas vezes, uma delas durante a minha pesquisa para escrever a minha versão da história para o livro “Criaturas e criadores: histórias para noites de terror” (Record). Mas ainda assim, não me lembrava desse início.
Ao receber essa edição belíssima da nossa editora parceira Zahar, decidi começar do início: pela a apresentação de Rodrigo Casarin. E foi lá que lembrei de informações que também havia esquecido e uma delas é a segunda razão para ter escolhido começar a resenha como comecei: Leroux foi advogado, mas acabou ganhando a vida escrevendo para jornais, fazendo coberturas de importantes acontecimentos e crimes, além de escrever romances e romances sequenciados para diversos veículos da imprensa. E isso tem muita importância para os leitores de “O Fantasma da Ópera” porque valoriza ainda mais não somente a escrita de Leroux, mas também a história em si. História essa que tem parte baseada em fatos reais. Quais? Bem … você vai ter que ler para descobrir.
Quem não conhece a história da paixão de um homem deformado, obrigado a morar escondido da sociedade, por uma jovem soprano? Parece romântico – um gênio, um compositor talentoso, mas colocado como pária por sua aparência e uma mulher linda, bela e frágil -, mas não, não é romântico. É tóxico e isso foi o que abordei na minha versão da história e é o que Leroux coloca em seu livro, mas sem o rótulo que o século XXI deu. Porque é isso: O Fantasma da Ópera é a história clássica de um homem que foi transformado em um monstro pela falta de noção da sociedade, mas que usa isso para justificar seu comportamento doentio e criminoso. Mas sim, ele ajuda Christine a desaflorar como cantora e ela, por sua vez, faz o que qualquer mocinha do século XIX faria por pura falta de escolha (tiradas por uma sociedade patriarcal e machista): casa-se com o amor de infância, pois só outro homem para poder salvá-la, não é mesmo? (spoiler: minha versão é diferente. Heheheh).
Mas então, por que amo tanto uma história tão tóxica? Porque essa história ainda é cantada, encenada e ovacionada em pleno 2019? Talvez porque a gente queira acreditar que hoje em dia, Christine teria outras opções e o Fantasma – Erik – seria mais bem tratado pela sociedade?
Eu amo essa história assim como amo histórias como Dracula, Franskenstein, Lobisomem, … eu amo monstros porque gosto de pensar que vejo além deles. Gosto de pensar que, se estivesse no lugar da mocinha dessas histórias, entenderia o lado deles e os ajudaria ao invés de fugir. Gosto de pensar que não seria parte da angry mob que levanta tochas e berra “MATEM A BESTA”, mas sim que olha no fundo dos olhos dos párias e entende. Não, não justifico comportamento abusivo nem tóxico, mas gosto de pensar nesses monstros como criaturas que poderiam ter tido uma vida diferente tivessem eles sido tratados diferentes. E isso me torna uma pessoa melhor. Esperançosa, talvez, mas gosto de pensar assim.
Para quem ainda não conhece a história de Erik, Raoul e Christine, fica a dica de levar para a casa a edição linda da Zahar. Até então, as capas do Fantasma estavam deixando a desejar ou as edições não tinham o cuidado e a quantidade de informações que esta tem. Aliás, leiam as notas de rodapé também, pois elas adicionam a narrativa. Aqui, toda linha importa. Saborei-as tendo em mente que o Fantasma da Ópera foi publicado em partes em um jornal antes de virar livro e isso justifica alguns leves furos na narrativa.
Se o Fantasma da Ópera realmente existiu eu não sei, mas aí está parte do mistério que torna a narrativa imortal.
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