Como a maioria da pessoas assisti o desenho da Disney algumas vezes e a imagem que tenho de Peter e Wendy é a dos traços do desenho. Não é dos meus desenhos preferidos e só fui me interessar em ler o livro depois de assistir ao lindo filme “Em Busca da Terra do Nunca” e conhecer um pouco mais sobre o autor e sua inspiração. A linda edição da Zahar colaborou também para a leitura, uma leitura bastante surpreendente.
“Alegres, inocente e desalmadas” é assim que J.M Barrie descreve as crianças na sua clássica historia “Peter Pan”. Essas três qualidades são essenciais para que as crianças sejam capazes de voar e se aventurar na Terra do Nunca. Essas três qualidades descrevem muito bem o livro. As crianças são inocentes e se jogam pela janela em uma grande viagem em uma terra desconhecida e cheia de magia. Essa é a parte encantadora da história, ai está a alegria e a inocência. A parte que causa estranheza é a violência e como todas as crianças tratam ela como algo comum. Os meninos perdidos matam alguém em toda a aventura e isso é motivo de orgulho. O livro é de 1911 mas isso não justifica o nível de violência exercido pelas crianças. Fui pega de surpresa.
Não é só a violência que torna as crianças desalmadas e aí está o melhor do livro. Elas são desalmadas porque são egoístas. Peter esquece de seus convidados, Wendy, Miguel e João, em muitos momentos, incluindo ai na viagem até a Terra do Nunca. Todos são egoístas na Terra do Nunca e Peter é o pior de todos. Só o que importa é a aventura, os amigos e a família ficam em segundo plano, um segundo plano bem distante. Peter chega a ser irritante de tão orgulhoso que é, está no limite de ser insuportável. Não esperava me irritar com Peter Pan quando peguei o livro, mas foi impossível. Peter e Gancho são bem mais ou menos, como Gancho tem a vantagem de ser o vilão.
O que faz “Peter Pan” ser tão envolvente é sua narrativa. É uma conversa com o leitor, cheia de comentários do autor, de descrições divertidas de considerações sobre os acontecimentos. A narrativa é construída para que o leitor sinta como se alguém estivesse ao seu lado contando uma historia, um narrador onipresente sim, mas que é mais do que isso, é um contador de uma historia fantástica. É uma delicia ler essa narrativa, a forma como ela é construída. A descrição da Sra. Darling, mãe de Wendy, é uma das minhas partes preferidas.
“Peter Pan” foi uma ótima leitura de um livro infantil. Bastante sanguinário, bem mais do que eu esperava em um livro para crianças, mas é um desses clássicos que quando se lê entende-se porque tornou-se um clássico. Um menino que se recusa a crescer, um crocodilo com um relógio que persegue um adulto. É a luta contra o tempo que vem nos pegar e a grande aventura que é ser criança e experimentar tudo pela primeira vez, de sonhar sem limites a ponto de sair voando pela janela.
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