Filme Saiu das páginas

Ferdinando: Ouse ser diferente

“O touro Ferdinando” é um livro infantil publicado originalmente em 1936 e traduzido para mais de 30 idiomas. Relançado com capa dura e em belíssima edição pela Editora Intrínseca, a narrativa é simples, mas contém inúmeras leituras, da mais rasa a mais profunda, como é de se esperar em todos os melhores livros infantis.

Na primeira leitura, acompanhamos a história de um touro que gostava de cheirar flores e não queria brigar. Mas brigar e lutar nas touradas de Madri é o que touros fazem, todos sabem disso. Mas Ferdinando – o maior touro do momento, o mais forte – se recusa, pois tudo que ele quer fazer é ficar na dele, cheirando flores. “O touro Ferdinando” foi criado no contexto da Guerra Civil Espanhola e é um exemplo de ousadia não de forma agressiva, mas de respeito as diferenças de si e dos outros.

O jornal The New York Times escreveu: “Ferdinando é mais do que um símbolo de paz. É também um ícone para todos os excluídos e oprimidos”. E isso está ainda mais claro no novo longa metragem que acaba de chegar aos cinemas, com direção do brasileiro Carlos Saldanha (“A Era do Gelo” e “Rio”).

“Ferdinando” já foi curta metragem da Disney há muitos anos e de muito sucesso. Mas o longa adiciona personagens, contexto e temas à história atemporal contada por Munro Leaf e ilustrada por Robert Lawson. Além de mostrar como Ferdinando não quer lutar, mas prefere ajudar em uma fazenda de flores, o filme mostra outros personagens que estão presos ao que se espera deles. Em um momento do filme, Ferdinando discute com outro touro – que foi ensinado desde pequeno a ser um bully, ironicamente ou não – sobre fugir do seu destino e abraçar quem ele é. O touro zangado diz que “cheirar flores não é com ele” e Ferdinando responde algo como: “Não. Isso é comigo. Você pode fazer o que quiser”. E isso é muito, muito necessário, principalmente no momento que estamos vivendo em nossa sociedade. Estamos lidando com tanto ódio, tanta falta de respeito e tolerância que ler e assistir “Ferdinando” é um alívio, é um atestado de que embora sejamos oprimidos de diversas formas diferentes, existe muito valor em nos mantermos fiéis a quem somos.

Com “padrões” de comportamento, beleza, expectativa, redes sociais e tantas outras forma de pressão, é muito fácil perder a visão dos nossos valores, no que nós queremos nos tornar e conquistar. A sensação, independente da idade que temos, é que estamos sempre na constante disputa com outros. E pra quê? Qual a razão para isso? Como diz “O Rei do Show” (outro filme que AMEI!), “Ninguém nunca fez a diferença sendo como todo o resto” e é isso aí! Se você quer ser diferente, seja. Se quer ser igual, seja. Mas siga a SUA opção, a SUA escolha e não a pressão alheia pelo que outros esperam de você. E essa lição – tanto para crianças quanto para adultos – está no livro e no filme “O touro Ferdinando”, da melhor forma possível: com conteúdo, humor e sensibilidade.

Curiosidade: o autor é americano – Munro Leaf – e só levou 40 minutos para concluir o manuscrito de Ferdinando.

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