Coluna Resenhas

Mulheres Sem Nome

Inspirado em pessoas e eventos reais, “Mulheres Sem Nome” é o romance de estreia da norte-americana Martha Hall Kelly. A história se inicia em 1939, quando o exército de Hitler invade a Polônia, e entrelaça as vidas de três protagonistas muito diferentes: Caroline Ferriday, uma socialite nova-iorquina que trabalha no Consulado da França; Kasia Kuzmerick uma adolescente polonesa que é enviada ao campo de concentração de Ravensbrück após se envolver com o movimento de resistência à ocupação germânica; e Herta Oberheuser, uma médica alemã que de repente encontra uma oportunidade de realizar seu sonho de se tornar cirurgiã a serviço de seu país com a proposta de trabalhar como médica no campo.

Caroline e Herta foram mulheres que realmente existiram. Já a personagem de Kasia foi inspirada em uma das vítimas dos experimentos conduzidos pelos médicos em Ravensbrück durante o Holocausto.

A narrativa se alterna entre as histórias das três personagens e a autora frequentemente faz interrupções em momentos de grande expectativa, o que é bastante frustrante quando temos que esperar dois ou três capítulos inteiros para ler o desfecho de determinada situação.

O desenvolvimento das tramas não é feito no mesmo ritmo – os capítulos de Caroline, por exemplo, acabam ficando muito deslocados do restante. Sua história demora muito não apenas para se desenvolver mas também para se integrar às demais, e se distancia muito das outras pelo tom e temática: é muito contrastante estar lendo sobre a vida num campo de concentração num capítulo e no seguinte estar numa festa da alta sociedade nova-iorquina.

Além disso, para tentar tornar a relação de Caroline com as vítimas do Holocausto mais “pessoal”, a autora cria um interesse amoroso e um conflito fictício que não funcionam muito na história. O relacionamento entre Caroline e seu par ficou artificial e o conflito, forçado. Em seu site, a autora conta como sua paixão pela história de Caroline Ferriday a inspirou a escrever o livro, porém quem o lê fica com a impressão de que não era uma história tão interessante assim já que um romance fictício tomou tanto espaço nela.

Dos aspectos positivos, achei muito interessante a caracterização da personagem Herta. Li algumas críticas ao livro nesse sentido, sugerindo que a autora não teria apresentado a personagem sob uma luz desagradável o suficiente. Acho que esse foi justamente um acerto. Não cair na fácil dicotomia monstros/mocinhos. Ao trazer uma personagem de uma médica nazista capaz de atos bárbaros sob uma luz humana, fazendo com que o leitor por vezes até simpatize com ela, a autora nos lembra de que nazistas são exatamente isso: humanos. Não são monstros que surgem de madrugada numa rua escura. São nossos vizinhos, colegas e até parentes. E por isso são tão perigosos.

No geral, não considerei “Mulheres Sem Nome” uma leitura ruim, ao contrário. Achei muito interessante principalmente por trazer à luz a história das coelhas de Ravensbrück, que eu particularmente desconhecia. Porém diante de tantas avaliações elogiosas, esperava mais do livro.

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