Coluna

The Power

O que aconteceria se a estrutura de poder da sociedade patriarcal se invertesse? É com base nessa premissa que se constrói “The Power”, romance distópico da inglesa Naomi Alderman, premiado com o Baileys Women’s Prize for Fiction deste ano. O livro é o quarto da autora e foi resultado de um ano que esta passou trabalhando muito próxima a Margaret Atwood, sendo inclusive dedicado à escritora canadense. Foi publicado há um ano no Reino Unido e ainda sem previsão de lançamento no Brasil, infelizmente.

O livro abre com a troca de e-mails entre Naomi e um tal Neil Adam Armon, que lhe envia o primeiro rascunho de seu romance histórico intitulado “The Power”. Neil afirma que se trata de uma espécie de romantização dos acontecimentos de um passado distante que levaram à formação da sociedade em que vivem naquele momento.

A partir daí a narrativa de fato começa. Somos apresentados a Roxy, uma adolescente britânica filha de um grande mafioso; Allie, uma jovem norte-americana que vive com uma família adotiva abusiva; Margot, prefeita de uma cidade estadunidense divorciada com duas filhas menores; e Tunde, um rapaz nigeriano que almeja uma carreira no jornalismo. Seguimos estes e outros personagens ao longo de um período de 10 anos, que parece se iniciar nos dias atuais, e durante o qual se desenrolam rapidamente mudanças sociais drásticas em todo o mundo.

O grande acontecimento que desencadeia todo o processo é o aparecimento súbito de um poder estranho em garotas adolescentes de todo o mundo. Elas conseguem criar correntes elétricas de intensidades variáveis usando apenas as mãos. Com isso elas se tornam capazes de muita coisa: desde acender uma simples lâmpada até eletrocutar um homem adulto.

A partir daí ocorre uma série de desdobramentos que vai pouco a pouco invertendo a balança do poder na sociedade, a medida que mais e mais mulheres começam a desenvolver suas habilidades. De repente, o sexo masculino se torna o sexo frágil. Meninos são colocados em turmas separadas nas creches. Homens começam a ter medo de andar desacompanhados nas ruas. Revoluções derrubam governos masculinos em alguns países, um novo culto ao sagrado feminino surge e o caos se espalha.

Como toda boa distopia, “The Power” usa uma situação extrema num futuro catastrófico para nos fazer enxergar o presente. Tudo que nos choca no livro acontece diariamente na nossa sociedade sem causar alarde. As diversas formas de violência a que os homens da história são submetidos nada mais são do que situações pelas quais mulheres passam todos os dias no mundo real.

A narrativa bem estruturada, a crítica afiada e o ritmo (literalmente!) eletrizante, tornam The Power uma leitura muito gratificante – embora perturbadora. É um livro obrigatório para quem curte ficção feminista.

 

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