“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”
Uma frase dessas é impossível não fazer refletir e não grudar no cérebro, né não? E, na minha opinião, “A Revolução dos Bichos”, livro publicado por George Orwell em 1945, pode ser facilmente resumida nesta frase da obra. Mais de 50 anos depois, a história que nasceu como sátira ao comunismo na União Soviética, se mantém assustadoramente atual.
O clássico já deve ser conhecido por vocês: vendo que irá morrer, Major, o mais velho porco da fazenda, convoca uma reunião entre os animais e lhes conta seu sonho; por fim à tirania dos homens e fazer com que os animais sejam seus próprios governantes, com justiça e igualdade. Major lhes ensina a canção “Bichos da Inglaterra”, a qual resume o “animalismo”, filosofia na qual todos os bichos seriam iguais e que traria prosperidade a todos.
Como já previa, Major falece alguns dias depois, e dois porcos jovens e espertos tomam a frente de sua ideologia. Bola-de-Neve e Napoleão passam a se reunir clandestinamente, bolam as estratégias para revolução e, um dia, quando a alimentação dos animais é má administrada, a revolta “explode”. Os animais expulsam os humanos da propriedade, e passam a chamá-la “Fazenda dos Bichos”. Tudo começa bem, com a realidade seguindo a utopia, e os bichos institucionalizam as seguintes regras:
1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro patas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.
Os porcos, letrados e um tanto arrogantes, “resumem” os mandamentos para os animais “menos inteligentes”: “Quatro pernas bom, duas pernas mau”, frase que as ovelhas passam a repetir como mantra.
Depois de instaurado o “governo” e após a tentativa de retomada da fazenda por parte dos humanos, a despeito de todo o esforço e dedicação de Bola-De-Neve, Napoleão o acusa de traição e o expulsa da propriedade, num racha entre os velhos companheiros que mudará a vida de todos.
Dali em diante tudo passa a ser culpa de Bola-De-Neve, mesmo ele não estando mais presente. As coisas vão mudando entre os animais e a ideologia vai se perdendo, se dissolvendo entre pequenos e grandes problemas do dia a dia. Os porcos, cada vez mais “donos” do local, começam a compactuar com os humanos e passam até a viver na casa do antigo fazendeiro. Os mandamentos tão bem postos antes à porta do celeiro, se modificam:
4. Nenhum animal dormirá em cama com lençóis.
5. Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6. Nenhum animal matará outro animal sem motivo.
7. Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.
O hino da Revolução, antes considerado inspiração, é banido, e Napoleão passa a governar os animais com punho de ferro, submetendo-os a trabalhos degradantes e rotinas cansativas. Os porcos, por sua vez, se tornam cada vez mais gordos, preguiçosos e parecidos com os humanos. Os outros animais já não se lembram se antes era melhor ou pior do que o que vivem agora. O slogan cantado pelas ovelhas muda: “Quatro pernas bom, duas pernas melhor!”, já que os porcos, já tão parecidos com homens, agora andam também sobre as patas traseiras.
Numa triste resolução do que havia começado como promessa de liberdade (e uma grotesca metáfora da nossa sociedade), os animais olham pra dentro da casa da fazenda e já não sabem distinguir, são os homens porcos ou os porcos homens?
George Orwell (que completaria hoje 115 anos, se vivo), traduz, num livro curto, mas nada leve, os vícios e defeitos da nossa sociedade, e como a frase: “quer conhecer alguém, lhe dê poder” é uma infeliz realidade. Enxergamos Napoleão e seus comparsas nas grandes corporações, na mídia, nos governos, nas rotinas de trabalho, até nas escolas. Todos somos iguais, mais alguns são mais iguais do que os outros, é uma máxima que se faz valer a todo o momento, maquiando a nossa realidade de uma falsa justiça e empatia que parece nunca realmente existir.
Real e atual da primeira à última linha, “A Revolução dos Bichos” nos faz questionar: “E se um dia estivermos no lugar dos porcos (talvez você já esteja, quem sabe), teremos lealdade aos ideais mais morais e éticos, e sabedoria para agir diferente?”
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