Corpete, sombrinha, parafernália steampunk, uma mulher sem alma e um lobisomem apaixonado. Como não amar “Alma?”?
Pensei em várias maneiras de começar essa resenha, mas nenhuma fez jus ao que senti ao ler “Alma?”. Então segue algo mais fidedigno ao que passou pela minha cabeça durante e ao final da leitura: “leskjdslekfsldkfhnseoriadaslkfhskjfh adha … QUE LINDO!”
Uma das características que me prendeu a “Alma?” (“Soulless”, publicado no Brasil pela Editora Valentina) é sua originalidade. Não somente o gênero tem influência de Steampunk – movimento que considero extremamente original e charmoso -, como o sobrenatural é visto quase que por um olhar científico, o que, ao invés de tirar o mistério da trama, adiciona.
“Alma?” tem como protagonista Alexia Tarabotti, uma “solteirona” de 26 anos, cuja ascendência italiana (por parte de seu falecido pai) é responsável por suas curvas, tom de pele mais moreno e temperamento sarcástico. Hoje em dia, tudo isso seria visto como atraente, mas na Inglaterra de 1873, Alexia é o oposto de atraente. Em um momento onde ser pálido como um vampiro é a última moda, a moça é feliz na companhia de seus livros, adora chá, se importa com etiqueta e bons modos e está confortável com o fato de que não vai se casar, pois já passou da idade. Tudo isso a faz uma delícia de ler!
Mas nossa protagonista tem mais uma importante característica. Na Londres de Alexia, vampiros, lobisomens e fantasmas são cidadãos comuns e que vivem em harmonia – ou quase – com humanos. Mas Alexia não é fantasma, nem vampira, nem uma “lobismina”. Alexia é outro ser. Alexia não tem alma.
Não ter alma é uma situação deveras complicada para a moça, mas também bastante interessante. Ao tocar em Alexia, qualquer ser sobrenatural perde seus poderes. Ou seja, ao ser atacada por um vampiro na cena inicial do livro – aliás, um vampiro que nem se apresentou antes de atacá-la! Que rude! -, Alexia o surpreende, pois, ao encostar na jovem, as presas do vampiro se retraem e ele perde a força e os reflexos sobre-humanos. O que facilita a mira da sombrinha de Alexia, sua arma de escolha.
Não ter alma é raro e considerado um mistério e uma ameaça, o que faz Alexia manter sua condição um segredo até mesmo de sua própria família. Esse “trunfo” está na manga de Lorde Conall Maccon, um lobisomem alfa com título de nobreza e responsável pelo DAS (Departamento de Arquivos Sobrenaturais), uma espécie de FBI sobrenatural. Alexia o ajuda em algumas investigações, pois ela pode não ter alma, mas tem curiosidade de sobra!
Quem acha que Lord Maccon é o interesse romântico de Alexia e vice-versa levanta a mão! Pois é! Escocês e muito … direto, vamos dizer assim, Maccon é um personagem maravilhoso de se ler. As cenas protagonizadas pelos dois são – perdoem o clichê -, de tirar o fôlego e de fazer corar: românticas, sarcásticas, surpreendentes e até um tanto safadinhas. Nem preciso dizer que, depois de Lupin, esse é o lobisomem da minha vida. Sorry, Jacob.
Voltando… o ataque à Alexia compõe a cena inicial do livro, mas não será esquecido durante o decorrer da trama. Muito bem amarrado, o enredo de “Alma?” foi escrito pela americana Gail Carriger para ser um livro único, porém o público e a editora quiseram mais, o que foi resultou em mais quatro livros. A trama do primeiro livro gira em torno da alma: o que faz alguns seres terem e outros não? Qual a influência dela na transformação de um ser humano em um vampiro ou em um lobisomem? Ah, sim, importante: em “Alma?”, nem todos transformados em seres sobrenaturais sobrevivem à transformação e isso é razão de estudo de alguns personagens.
“Alma?” se passa ao longo de alguns dias durante os quais alguns ataques estranhos começam a acontecer, desaparecimentos, assassinatos. Alexia Tarabotti se encontra no meio de todos e, por mais que Lorde Maccon insista em que ela não se envolva, a jovem não pode deixar de estar intrigada com os acontecimentos. No meio de tudo, beijos roubados e escondidos e muita ação mantém o ritmo de “Alma?”, que também tem seus momentos complicados: em algumas cenas, os diálogos perdem o tom e se estendem demais, ferindo o ritmo da narrativa. E alguns momentos safados saem um pouco de contexto, mas não perdem seu charme.
Outro aspecto original de “Alma?” é a organização das classes. Os lobisomens se comportam como matilha, o que é de ser esperado, mas os vampiros …. ah, os vampiros funcionam em esquema matriarcal, assim como abelhas, sendo apenas a vampira rainha em condição de transformar outros. E um outro personagem sensacional é Lorde Akeldama, um vampiro amigo de Alexia e muito, mas muito afetado!
Segundo a própria Gail “Alma?” é considerado fantasia urbana com toques de steampunk. Apaixonada e entusiasta do gênero, Gail – que é arqueóloga – colocou alguns temas clássicos do steampunk na trama assim como adorável parafernália, como óculos repletos de lentes e gadgets, dirigíveis e os sempre-presentes autômatos (embora sua versão tenha um toque de Golem). Aqui, embora o sobrenatural seja quase que natural de tão aceito que é, não existe magia. Tudo é explicado, ou está tentando ser, de maneira científica o que torna o approach ao livro original e muito interessante.
“Alma?” acaba de maneira que não é necessário outros livros, mas os personagens são tão deliciosos que é impossível não querer saber o que acontecerá com eles nos próximos volumes. A trama e a ambientação são excelentes, mas são os personagens que fazem de “Alma?” imperdível. Embora Alexia seja direta, independente (dentro dos padrões de sua sociedade) e diferente, ela é uma dama e quer ser tratada como tal. Por sua vez, Maccon é o mais alfa possível, mas se vê apaixonado e não faz ideia de como lidar com isso. Lindo e divertido demais! Leitura mais do que recomendada!
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Amo “Alma?” e já estou louca pra ler o segundo, Changeless. O primeiro capítulo já me deixou super empolgada e torcendo (como sempre) pra Alexia.
Esse é mais um dos livros que você me deixa morrendo de vontade de ler 😀