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Angela Maria

angela mariaO Brasil tem um sério problema com memória, não valorizamos a nossa história. Um país que não olha para trás, que não se reconcilia com seu passado está fadado a repetir os mesmos erros, vide pessoas indo para a as ruas pedir a volta da ditadura militar em pleno 2015. Foi com essa visão de que precisamos olhar para trás, conhecer nossa historia, preservar nossos ídolos que me atirei nas quase 900 páginas da biografia de Ângela Maria escrita por Rodrigo Faour.

Estou muito longe de ter vivido a era do rádio, na minha família não tem ninguém que tenha uma paixão por cantores ou cantoras que fizeram sucesso nessa época e mesmo assim, por alguma razão que não sei explicar, desde que me entendo por gente gosto de musicas dessa época. Sou fã assumida de Dolores Duran e me divirto lendo sobre as rivalidades, os programas, as musicas dos anos de 1930, 1940 e 1950. Como não amar a disputa entre Emilinha e Marlene, os carnavais com as marchinhas, as chanchadas e um Brasil que se estruturava entre períodos democráticos e ditatoriais.

Foi com esse espirito de conhecer mais que peguei “Ângela Maria – A Eterna Cantora do Brasil” para ler. Quando se fala em Ângela a minha única referencia era ela cantando “Babalu” e mesmo assim sem nenhum registro de como é a sua voz. O verdadeiro nome de Ângela é Abelim, Ângela é nome artístico que ela criou, em um primeiro momento, para despistar os pais que não queriam que ela cantasse e o livro é sobre a carreira de Ângela e só. Faour mostra a carreira meteórica, o sucesso que atravessa décadas, como ela conseguiu sobreviver com vigor invejável a transição do rádio para TV. Tudo na carreira de Ângela é incrível, são quase 65 anos cantando. Nos anos de 1970, quando se acreditava que os cantores da era dos festivais tinham suplantado os cantores do rádio eis que surge uma pesquisa IBOPE sobre os cantores mais admirados do pais e ela e Roberto Carlos encabeçam a lista. Um feito e tanto para uma cantora, que nesse momento, se apresentava em churrascarias.

Certa vez fui a uma palestra de Nelson Motta em que ele afirmou “o problema dos biógrafos brasileiros é que eles se apaixonam por seus biografados”. Nelson tem toda a razão e essa é a minha principal critica a Faour, ele é fã e apaixonado por Ângela. Lista sucessos, shows, programas de radio e tv em um ritmo que deixa o texto, em alguns momentos, mais como uma grande lista de acontecimentos do que uma biografia. Dois casos são bem emblemáticos dessa situação, Ângela adotou quatro filhos, no livro só temos o nome de dois e, o pior de todos, ela foi casada cinco vezes, mas só temos o nome de quatro maridos porque, como diz o texto, Ângela tem horror ao quarto marido e não fala o nome dele, por isso Faour também não o nomeio nas paginas. Isso faz com que o livro fique com cara de relato de fã e não de biografo, uma pena.

Nas mais de 800 paginas conhecemos os êxitos de Ângela em detalhes, temos relatos de todos os seus discos, de suas turnês, vemos os seus erros em escolha de repertório, o momento em que ela abraça a cafonice e se mantém nos palcos. A vida de Ângela está em detalhes na páginas, mas quando esperamos conhecer a Abelim temos problemas. Os casamentos tumultuados estão lá, mas são pouco explorados. Como assim ela foi enganada por quatro maridos que a roubaram? Como assim perdeu quase tudo que tinha e teve que reconstruir a vida tantas vezes? Que mulher é essa que se entrega tão completamente a homens tão inescrupulosos? Essas perguntas ficam sem resposta. Sabemos apenas que isso aconteceu e pronto, como já disse, de um marido nem sabemos o nome.

Apesar das ressalvas o livro é um grande trabalho de pesquisa e a cada página dá vontade de ir buscar uma gravação de Ângela e ouvir essa voz tão cultuada por muitos. Uma mulher que foi Rainha do Rádio na década de 1950 e que até hoje, por incrível que pareça, continua fazendo shows, gravando discos e sendo adorada por uma legião de fãs. Ângela merece todas as homenagens é uma das poucas remanescentes de uma Era, na ativa e ainda com alguma projeção só temos ela e Cauby Peixoto. Dolores Duran, Isaurinha Garcia, Nora Ney, Linda e Dircinha Batista, Marlene, Emilinha Borba, Adelaide Chiozzo e tantos outros já se fora, restam só os dois guardiões de uma Era, de uma forma de cantar, de uma passado da nossa musica que merecia mais cuidado.

Terminado o livro fiquei um pouco decepcionada por ter conhecido apenas Ângela, esperava mais do que isso, mas valeu por ter me feito buscar suas gravações de dor de cotovelo das mais clássicas. Recomendo entrar no Spotify e buscar suas musicas, ouvir sua voz límpida, seus agudos, seus muitos la ri ri ris, só assim é possível entender como ela sobrevive há 65 anos cantando. Ela merece todas as homenagens.

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