“Cabo de Guerra” é uma boa leitura e uma narrativa de um aspecto da ditadura militar no Brasil que é muito pouco explorado na ficção, infelizmente.
As ditaduras que o Brasil sofreu ao longo de sua história são terreno fértil para obras de ficção. O que diferencia o livro de Ivone Benedetti dos demais é o seu protagonista, aqui não temos um guerrilheiro ou um torturador, temos um cachorro. Cachorro na linguagem do repressão era o militante de esquerda transformado em informante, em agente duplo. Uma faceta pouco explorada da ditadura militar e que em “Cabo de Guerra” ganha protagonismo.
Na orelha do livro Bernardo Kucinski argumenta que o título do livro é sobre a disputa moral que o protagonista teria ao ser agente duplo, a visão dele tem respaldo no livro e mesmo assim eu leio esse título de forma diferente. Cabo é a primeira graduação que um soldado recebe e é essa graduação que pouco lisonjeira, a de agente duplo ou cachorro, que seguimos no livro.
Saindo do título e embarcando na história em si, a narrativa é um vai e vem do presente para o passado. O protagonista nos guia em primeira pessoa por sua vida, sua chegada a São Paulo vindo da Bahia, seu envolvimento, meio por acaso, com a militância de esquerda, sua prisão e transformação em Cachorro. Demora-se um pouco para chegar na parte mais interessante do livro, aquela que o diferencia dos demais, a transformação de alguém envolvido na militância de esquerda em informante e isso me frustrou um pouco. Quando a transformação se concretiza a historia passa a ter um rumo mais acelerado, os anos se multiplicam e cheguei a me perder um pouco no tempo, nada que chegue a macular a leitura.
O Cachorro criado por Benedetti se envolve em tudo por acaso, não tem convicções nem a direita nem a esquerda, faz o que é necessário para sobreviver e se preocupa pouco com o que isso acarretará. Não é a culpa que o destrói e sim um amor, sua sobrevivência depende mais da ajuda de amigos do que dele mesmos, é um desses personagens por quem não se torce em momento algum e mesmo assim não se coloca o livro de lado.
“Cabo de Guerra” é uma boa leitura e uma narrativa de um aspecto da ditadura militar no Brasil que é muito pouco explorado na ficção, infelizmente.
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