Coluna

Colecionando palavras

Vou contar para vocês que quando decidimos ter colunas as sextas feiras aqui no CdL achei que seria tranquilão escrever uma por mês, ledo engano. Todo o mês fico em busca de um tema, de um assunto, é sempre com uma dose de sofrimento que o texto vai nascendo. Esse mês não foi diferente, tive que recorrer aos meus alfarrábios e acabei descobrindo que sou uma colecionadora de citações e de palavras. Elas estão espalhadas em vários caderninhos, alguns organizados, outros nem tanto. As citações ganharam caderninho próprio nos últimos anos e e posso dizer que é uma organização só, já as palavras, essas são anotadas aleatoriamente em qualquer canto.

Sempre que ouço ou leio uma palavra que não conheço guardo e vou em busca de enriquecimento do meu vocabulário, acho que é um habito adquirido no colégio onde tinha um professor de português que adorava falar coisas como “vocês parecem uma súcia” ou “vamos acabar com essa azáfama” ou ” vamos acabar com essa choldra”. Nasceu ali a minha pequena coleção de palavras da língua portuguesa que são pouco usadas e que adoro. A minha preferida, de longe, é Nefelibata, que significa que ou quem vive nas nuvens. Vai dizer que não é uma palavra que merecia ser mais usada? A primeira vez que ouvi foi em uma entrevista do então presidente Fernando Henrique Cardoso.  Ela compete com ensimesmado com palavras que sempre quero usar e nunca acho uma boa oportunidade que não pareça uma atitude besta da minha parte. Recentemente descobri a expressão pari passu, uma expressão latina que significa ao mesmo tempo, está guardada já no meu velho caderninho ou alfarrábio como gosto de chamar, afinal é uma ótima oportunidade de usar essa palavra da minha coleção.

Pensando em porque continuei colecionando palavras por todos esses anos formulei uma hipótese que me parece bem plausível. O português é uma língua riquíssima em que usamos exaustivamente sempre as mesmas palavras, quem escreve normalmente usa um pouco mais por ter que recorrer a sinônimos com mais frequência. Mesmo assim muitas palavras são esquecidas e caem em desuso. Acredito, desde que li 1984, que o empobrecimento de vocabulário, em qualquer língua, é uma ameaça a liberdade, com poucas palavras a disposição como se faz para formar pensamentos de contestação? Como expressar algo se não se tem as palavras disponíveis? São questões que sempre voltam a minha cabeça e agora em um mundo onde mentira virou “fatos alternativos” e que dicionários elegem como palavra do ano “pós-verdade”(outro sinônimo para mentira) acho que é ainda mais importante que saibamos nos expressar com clareza.

A coluna começou leve e foi ficando macambúzia, desculpa, não era a intenção.  Vocês tem palavras preferidas?

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