Um presidente chega ao poder prometendo beneficio aos trabalhadores e o combate a inflação, nos meses seguintes vê seu próprio partido e aliados o abandonar em questões importantes no congresso. A inflação não diminui, greves começam a pipocar pelo país. Os jornais todos os dias falam de crise e corrupção. A oposição pede o impeachment sem uma base legal muito sólida mas com o discurso de que o presidente não tem mais condições de governar. Conhece esse cenário? Não, não estou falando do segundo mandato da presidente Dilma, esse é o cenário do terceiro e último volume da biografia de Getúlio Vargas escrita por Lira Neto.
O terceiro volume mostra o período de 5 anos em que Vargas ficou fora do poder, o mandato do presidente Dutra; como ele ganhou a eleição de 1950 e toda a crise dos quatro anos em que permaneceu no poder. Como os dois outros livros esse conta não apenas o que acontece com Getúlio mas também todas as tramas políticas importantes que aconteciam concomitantemente, faz um panorama de uma época, é um pequena aula de história do Brasil.
Comecei essa jornada de ler uma trilogia sobre Getúlio porque tenho muita dificuldade de entender a idolatria a um homem que foi um ditador sanguinário e mesmo assim ainda aparece em propagandas de partidos políticos até hoje. Tenho que dizer que meu conceito não mudou, não deveríamos idolatrar um ditador. Tendo dito isso, é inegável que ele era um grande politico, um ótimo articulador e que certos ganhos obtidos em seus governos continuam até hoje. Mesmo esse legado bom não pode esconder todo o mal que ele perpetrou, as tantas pessoas que perseguiu, as tantas que foram torturadas, a censura imposta pelo Estado Novo e as duas constituições que rasgou e a que se negou a assinar.
Getúlio não é um herói que lutou pelos trabalhadores, é um politico que pegou em armas para derrubar um governo que não atendia a seus interesses, tomou o poder e de lá só saiu deposto. Voltou, como ele disse, “nos braços do povo”, mas parecia não ter mais o mesmo vigor, não sabia bem lidar com um legislativo hostil e viu sua popularidade minguar e sua governabilidade ir pelo ralo. Isolou-se e fez o inimaginável, “saio da vida para entrar na história”. Adiou em dez anos um golpe militar com o ato.
Os últimos capítulos do livros são todos dedicados a agosto de 1954, talvez os mais dramáticos dias da nossa história republicana. Do atentado a Carlos Lacerda na Rua Toneleiro ao suicídio são paginas eletrizantes, são momentos que beiram ao inacreditável, tem um clima de filme de suspense mesmo que eu saiba o desfecho. Terminei o livro com uma vontade enorme de ler mais sobre o Lacerda, o Brigadeiro Eduardo Gomes, de saber mais sobre o governo do Café Filho, enfim saber mais sobre a nossa história, entender melhor como chegamos aqui e porque estamos repetindo os mesmos cenários. A trilogia biográfica escrita por Lira Neto deveria ser leitura obrigatória. (Getúlio 1 e Getúlio 2)
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