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Nebula Awards 2020

Neste fim de semana tivemos a cerimônia do Prêmio Nebula, dado pela Associação dos Escritores de Ficçao Científica e Fantasia da América (SFWA) aos melhores de 2019. Em tempos de pandemia, foi uma cerimônia virtual apresentada pela atriz (e escritora, e produtora de animação, enfim, multi-talentosa) Aydrea Walden. Teve prêmios para Fran Wilde, A. T. Greenblatt e Cat Rambo. E mais um pra coleção de Neil Gaiman (pelo roteiro de um episódio da série Belas Maldições). 

O prêmio de melhor novela, um dos mais disputados, foi para Amal El-Mohtar e Max Gladstone pelo genial This Is How You Lose the Time War, em que agentes rivais travam uma guerra através do tempo até que acabam se apaixonando. 

A categorial principal, Melhor Romance, tinha quatro dos seis indicados concorrendo pelo romance de estreia. E ganhou o meu favorito, A Song for a New Day, de Sarah Pinsker, do qual já falei aqui. Merecidíssimo. 

É uma história que tem tudo a ver com a época atual: um futuro próximo em que o isolamento social é obrigatório, por causa de uma pandemia e de atentados terroristas. Só que mesmo depois de passada a crise, o isolamento é mantido e vira instrumento de repressão. Uma roqueira se rebela e atravessa os Estados Unidos fazendo shows clandestinos. Quando foi publicado ano passado, ninguém imaginava que logo estaríamos dentro daquela história…

Sarah Pinsker assistindo à cerimônia em casa

E nessa época de pandemia e convulsões sociais, o discurso de Sarah Pinsker não podia deixar de ser forte e político. Com vocês a palavra da ganhadora do Nebula 2020:

“Estamos separados por necessidade mas também por amor e pelo desejo de proteger um ao outro. Estamos assustados, estressados, sofrendo, e procurando novas maneiras de nos conectar, e agradeço à SFWA por buscar maneiras de nos conectar. A Song for a New Day é um livro sobre essas conexões, é sobre pertencer a uma comunidade e apoiar as pessoas que fazem arte. Tenho que dizer que fiquei surpresa quando foi rotulado como uma distopia, porque sempre vivemos numa distopia. O livro examina o mundo que podemos criar se ficarmos dentro de casa tempo demais, mas nesse momento os atos radicais são atos de proteção, e o que eu tenho a dizer sobre isso está num estado de fluxo constante. É um ato radical ficar em casa se puder, quando o seu governo quer sacrificar você em nome da economia. É um ato radical procurar novas maneiras de chamar a atenção para o modo como a Covid-19 está devastando as nações indígenas e o imigrantes que ainda mantemos em jaulas, em plena pandemia, e pela maneira como o governo está se livrando da responsabilidade jogando tudo nos nossos ombros. É uma ação radical buscar maneiras de apoiar aqueles que não podem ficar em casa e aqueles que protestam. Cabe a nós de pele branca ficar ao lado dos nossos vizinhos negros e dizer que estamos com eles, que a matança de pessoas negras na América tem que parar, e cabe a nós ouvir e nos educarmos. As pessoas têm me perguntado como eu fiz pra prever o futuro. E a resposta é que, infelizmente, nós somos muito, muito previsíveis. Mas não estamos vivendo no meu livro, e ainda temos tempo para mudar. Onde quer que você more, faça o que puder, fale, escute, doe, tanta gente deu sugestões essa noite toda, conscientize, vote naqueles que seguem a ciência, que buscam soluções, e que acreditam que a desigualdade sistêmica tem que ser arrancada pela raiz e estão dispostas a fazê-lo. E nós temos que trabalhar para mantê-los responsáveis. Por favor, tornem o meu livro ficção de novo.”


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