“O meu nome é Jubileu… e eu explodo as coisas.”
X-Men, A Noite dos Sentinelas
não-ser
Há um problema – uma dança – em ser.
O tema, no caso de ser um tema, já foi bailado pela filosofia ocidental e oriental em toda a sua confabulação. Ser é pensar, não ser, sexo, consumo, plástico, artifício e performance.
Ser.
Sob os olhares odiosos dos vigilantes das normas, da moralidade e do corpo, ‘ser’ é uma formatação restrita e domesticada; um conjunto de regras, disciplinas e formas de pensar e agir sobre o mundo e sobre o outro; é definido, mais uma vez, pela raça, pele, cabelo, voz, sotaque, erotismo e desejo. Ser, nesse governo em especial, não é uma experiência em expansão e mobilidades e sim uma contração; ser é estar constantemente em risco, ameaçade, violentade; ser-corpo é estar-carne exposte-frágil.
quebrar ou dobrar as regras
Mas nas reviravoltas da existência e das experiências subversivas, ser é dobrar e quebrar as regras, normas e formas; se existe um ser, uma ser! – é convocar os outros saberes e fazer o impossível.
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o pavor da diferença e o controle do mesmo
O que se deseja, nesse e em outros governos, é a extinção da diferença através do fogo – seja a arma ou a bíblia. Aniquilar para que as categorias rígidas e hegemônicas não sejam ameaçadas, corrompidas, e para que os privilégios da branquitude hétero-capitalista (escravocrata, colonial, extrativista) permaneçam intocados.
O modelo neoliberal hetero-patriarcal-capitalista planetário (e sim, adoro uma teoria da conspiração) precisa de fazendas, populações adoecidas e alienadas, corpos neo-dóceis, intoxicados e oscilando entre o pânico do fim e a esperança em qualquer coisa. A subjetividade, antes no meio do caminho, agora se encontra nos estertores da capacidade de “dar conta de tudo isso” em um mundo governado por perigosos bonecos de ventríloquos.
Tenho pensado em uma cena de Mad Max: Fury Road (George Miller, 2015), na qual Immortan Joe libera água para uma população desesperada; e penso nas grandes corporações e indústrias, gigantes e tentaculares, Apple, Nestle, Unilever, Disney, produtores de agrotóxicos, as gigantes dos fármacos… e nossos futuros-presentes conduzidos; nossos corpos alimentados por rações, nossa saúde, desejo, sexualidade modulados…
O medo, nesses casos, leva ao ódio – como sabemos; temer o que desconhece conduz à adesão cega e irrestrita aos discursos facistas de mantenedores e operadores do poder.
As pessoas odeiam o que elas não compreendem.
nunca use uma porta
Mas ser é desvio.
Ser é romper.
Através dos séculos, as monstruosidades insubmissas surgem nos mais insuspeitos becos, plantations, banheiros, florestas, fossas oceânicas…
Ser monstre, ser outra, escapar das capturas; ser um mutante temido, perigoso e odiado em um mundo de seres robóticos, gigantescos, que querem te exterminar.
Nas terras devastadas desses governos, nos edifícios sufocantes, ser é sobreviver, é produzir vida, destruir para poder sonhar.
Ser é produzir desvios, rotas de fuga, ruínas, portas – mais uma lição que aprendi com x-men: onde não houver saída, exploda uma.