Livros Resenhas

Pontos de Fuga

Milton Hatoum é desses escritores que compro os livros sem saber nada, daqueles que sou incapaz de não ler. Quando foi anunciado que ele estava escrevendo uma série sobre a ditadura fiquei atenta às datas de lançamento. Devorei “A Noite da Espera” em dias, passados anos “Pontos de Fuga” foi bem mais dificil de concluir.

Tenho que admitir que o passar do tempo apagou da minha memória por completo o que tinha acontecido no primeiro livro. Vim aqui ler a minha resenha e nada. Resolvi começar a ler o livro dois assim mesmo e ver se a história destravava a memória. Não aconteceu. O drama de Martim em Brasília é uma história bem nebulosa pra mim e não acho que isso tenha atrapalhado minha leitura de “Pontos de Fuga”, mas , definitivamente, colocou em perspectiva o impacto que “A Noite da Espera” teve em mim.

O segundo livro se passa nos anos 1970 e sua narrativa não segue uma ordem cronológica e mesmo assim mostram um ótimo e desalentador retrato daqueles anos de chumbo. Os personagens continuam sendo estudantes que tentam sobreviver em meio a uma ditadura em seu pior e mais duro momento. Há uma desesperança e um certo desespero que parece tão longe e tão perto em tempo de pandemia e isolamento social.

Martim e seus amigos que moram na Fidalga, uma republica, tentam sobreviver a um ambiente tóxico, cheio de medo e com um governo em que não se pode confiar. Hatoum não tinha em mente uma pandemia mundial em que a inépcia do presidente viraria notícia internacional, mas a critica dele já via uma juventude que via sua liberdade de pensamento e existência sendo ameaçada por uma onda conservadora. Os dias de hoje só tornaram as entrelinhas mais claras.

É o meio de uma saga e conta uma parte da nossa história repleta de dor, torturas, desaparecimentos, silêncios, cicatrizes e exílios. Os fragmentos da vida em São Paulo e todo o medo nas ruas entrecortados com os relatos da melancolia dos exilados em Paris compõe um quadro inquietante e triste.

Não foi uma leitura fácil, ainda mais nos dias de hoje, mas é o Milton Hatoum escrevendo, sempre vale a leitura. Espero que a história de Martim continue e chegue às minhas mãos em tempos mais calmos.

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