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Sol da Meia-Noite

Quando comecei a escrever esse texto, tinha acabado de ler “Sol da Meia-Noite”, de Stephenie Meyer (Intrínseca, tradução de Carolina Rodrigues, Flora Pinheiro, Giu Alonso, Maria Carmelita Dias, Marina Vargas e Viviane Diniz). A minha adrenalina ainda não tinha voltado ao normal e, se Edward estivesse perto, ele com certeza teria notado o aumento no meu batimento cardíaco, minhas pupilas dilatadas e minha mente, que berrava “AI MEU DEUS! EU QUERO MAIS!”. Para quem não sabe, “Sol da Meia-Noite” é “Crepúsculo” contado pelo ponto de vista de Edward Cullen, sendo que esse livro levou cerca de 15 anos para ser escrito e lançado. Mais de uma década com saudade de Forks, dos Cullen, dos Swan e até do Jacob… sim, valeu a pena esperar.

Ah, mas você – pessoa não Crepusculete – deve estar achando exagero essa comoção toda por um livro que conta uma história que já conhecemos. Mas não é o caso de saber o que vai acontecer, mas sim entender outro ponto de vista de um relacionamento que já deu muito pano pra manga. Olha, antes de continuar, já digo que vou mencionar tudo que gostei e não gostei no livro. Então, se você ainda não leu, saiba que vai rolar spoiler.

Vamos por partes: narrativa. Em “Sol da Meia-Noite” acompanhamos o ponto de vista de Edward Cullen e tudo que ele pensa sobre tudo e todos. Cheguei a conclusão de que é exaustivo ser um vampiro como Edward! Porque, por mais que ele possa ler mentes e ser, bem, indestrutível, ele é muito angustiado como qualquer jovem, mas isso só aparece aos poucos. Eu explico.

No início do livro, quando Edward vê o movimento que a jovem comum Bella causa na pequena comunidade do colégio, ele acha tudo muito chato. “Ela é só uma menina humana”, ele reclama para si mesmo. E sim, ela é. Só que essa é a força dela: Bella não quer mudar o mundo, não quer ser heroína, não quer ser popular, não quer ser nada diferente do que ela é. Ela curte quem ela é e tem suas inseguranças como qualquer menina humana comum. E quantas vezes, ao ler a saga “Crepúsculo” pelo ponto de vista dela, a gente não reclamou disso? De que ela era fraca, chata, dramática… como se toda mulherada aos 16 anos fosse totalmente maravilhosa, perfeita, cristal lapidado, né? Não odeie Bella.

Pelo ponto de vista de Edward no início do livro, ela irrita ele, pois o aroma dela é forte demais para sua resistência imortal. Basicamente, deu match entre o sangue dela e o apetite dele, mas ele quer ser um bom homem e não um monstro. Então, ele resiste a ela, ele se manda de Forks muito para a tristeza do resto do clã. Mas o fato de ele não conseguir ler a mente de Bella e dela não se deixar intimidar por ele o tornam curioso. Então ele volta e, aos poucos, sua obsessão pela menina tímida e altruísta vai se transformando em amor. E é aqui que a gente vê a mudança acontecer na narrativa por meio da caracterização de Edward. E é aqui que Stephenie Meyer me ganhou… de novo.

Os primeiros capítulos, vimos um Edward taciturno, sem paciência, só sobrevivendo mais um ano em uma eternidade que não tem graça pra ele. Não vou mentir: os primeiros capítulos são difíceis de ler justamente por isso, porque Edward está um mala! Mas conforme ele se apaixona por Bella, a curiosidade dá lugar ao amor e o torna mais humano, mais compreensivo, mais envolvido com tudo a sua volta. Bella literalmente faz Edward voltar a viver e ele sabe disso e se encanta com como é fácil se apaixonar por ela. Nós já lemos “Crepúsculo” e sabemos o quão apaixonada ela já está por Edward. Mas naquela narrativa, a gente também foi conquistada pelo mistério do vampiro. Aqui, ele nos conquista novamente ao abrir sua mente e seu coração para nós. E Bella também nos conquista porque a vemos pelo ponto de vista dele. É um exercício lindo aplicar isso a nossa vida: como nós nos vemos versus como outras pessoas que nos amam nos vêem. Se formos trocar figurinhas sobre isso, vamos notar que existem muitas divergências e o mesmo acontece aqui. Bella se acha fraca, comum, sem graça. Edward se acha não natural, um monstro. Mas um idealiza o outro exatamente como pessoas apaixonadas fazem. E lá estamos nós suspirando novamente.

E Bella aqui, vista por Edward, soa mais assertiva e mais altruísta, o que faz total sentido com o poder dela em “Amanhecer”. Sim, Bella pensa nos outros antes de si mesma, mas isso é sutil quando estamos seguindo o ponto de vista dela. Afinal, se uma personagem diz isso ela vai de altruísta para narcisista, né? Então, a conhecendo pelo ponto de vista de Edward, vimos uma Bella muito mais querida do que ela se considera. Deu vontade de abraçar e dizer “nunca te critiquei!”.

Charlie Swan é o pai de Bella e um dos meus personagens favoritos. Em “Sol da Meia-Noite”, sabemos que ele, assim como a filha, tem a mente reservada, o que não permite que Edward leia tudo que ele está pensando. E, ao ver um dos pensamentos da mãe de Bella no fim do livro, sabemos que a filha também é tão romântica quanto o pai. E, ai meu Deus eu amo o Charlie e fiquei feliz em lembrar que ele acaba a saga acompanhado com novo amor.

Mas é claro que também temos alguns pontos negativos em termos de personagens. Embora ter vários personagens masculinos interessados em Bella a tornem um pouco Mary Sue (aquela personagem perfeita), o que é bem incoerente com a visão que ela tem de si e com sua caracterização, faz parte de várias cenas legais no livro. Só que personagens como Mike e Jessica soam como estereotipos e, embora isso seja coerente com a saga publicada 15 anos atrás, fica gritante hoje em dia como esse era um ponto que poderia ter sido mais bem trabalhado. Pois é, não somos mais os mesmos leitores da década passada, né? Do mesmo mal sofre a vampira Rosalie. A história de vida (e de morte) de Rosalie está ligada com sua beleza (que é perfeita). Então não faz sentido ela ser tão narcisista como vampira. Pelo que ela sofreu, ela tinha tudo para ser convencida, mas menos narcisista. Outra bola na trave de Meyer, mas que segue coerente com a saga. Mesmo assim, gosto mais da Rosalie aqui.   

Não vou entrar na sinopse de “Sol da Meia-Noite” porque não é o caso. Nada muda na história de “Crepúsculo”, apenas sabemos de mais algumas coisas e vimos a mudança de Edward aos poucos, entendo a fundo o personagem. E uma coisa que precisa é de ajuda psicológica. Eita rapaz angustiado e inseguro, gente! A todo momento, ele quer proteger Bella, principalmente de si mesmo. E as conversas que eles têm em vários momentos são excelentes sobre isso. Porque é ÓBVIO que não vai funcionar! Mas, no lugar dele, qualquer vampiro estaria curtindo sua namorada humana, aproveitando a juventude dela e deixando a vida levar. Edward não. Ele já está pensando que não vai durar, que todo tempo da vida dela é pouco, que ele vai perdê-la. Amigo, relaxa! Só que é justamente essa angústia de um dia perder quem você mais ama que é o fio condutor da saga inteirinha. Ele é estabelecido aqui e em “Crepúsculo”, ele tem o maior conflito em “Lua Nova”, move Edward em “Eclipse” e tem o último conflito em “Amanhecer”. Basicamente, tudo pode acontecer no mundo, mas o foco deles é ficarem juntos. E não tem nada mais humano e adolescente do que isso.

Em suma, “Sol da Meia-Noite” é uma homenagem aos fãs da saga de um vampiro apaixonado e apaixonante e da humana que é irrevogavelmente apaixonada por ele. A dedicatória de Stephenie no início do livro e o agradecimento aos leitores no final me deixaram em prantos. Porque sim, li a saga inteira, amo a saga inteira e quero mais. Não nos deixe esperando mais 15 anos, Stephenie. Não somos os Cullen e o tempo passa pra gente!

Para quem quer papear sobre tudo isso e muito mais, vai rolar live no meu ig (@frini_georga) com a Janda Montenegro no sábado, dia 22, às 16h. Segue lá e bora voltar pra Forks… de novo!

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