Coluna

Uma década

Há dez anos a internet ainda era um lugar que gerava hipóteses de futuro idealistas e românticas, os blogs dominavam as conversas e as redes sociais estavam engatinhando. Muito mudou, as hipóteses tornaram-se sombrias, as redes sociais dominam os debates e blogs, bem, eles resistem.

Não começamos o Cheiro de Livro querendo dominar debates ou ditar regras. Queríamos achar mais pessoas como nós, bibliófilos, e ampliar nossas conversas sobre livros além da nossa mesa em um café, além do nosso círculo de amigos. Nesses dez anos seguimos fiéis aos únicos slogans que já apareceram na nossa home “o que a gente gosta, quando a gente pode” e, principalmente, “todos os livros importam, todos os livros ajudam”. Nossa pequena Ágora é dedicada aos livros, não importa em que formato, não importa o gênero, o que é primordial é a valorização da palavra escrita e seu principal veículo: o livro.

Em um país em que, em média, se lê um livro por ano e que o governo federal e o legislativo dizem que quem compra livro são pessoas mais abastadas e por isso os livros podem ser taxados, falar sobre livros e literatura parece ser uma empreitada quixotesca, é verdade. Isso não impediu que estejamos aqui há uma década e de que continuaremos aqui independente de governos e governantes. Monteiro Lobato pode ter tido sua obra questionada sob a lente do século XXI mas uma de suas mais celebres frases continua sendo uma verdade inquestionável: “um país se faz de homens e livros”.

Há hoje, mais do que nunca, uma atmosfera de insatisfação com a política, com os governantes, com as pessoas. Nosso mundo ultra conectado nos fez ensimesmados e, cada dia mais, isolados em meio a multidão. Nesse contexto os livros são ainda mais importantes, eles são os capazes de nos fazer olhar além do nosso minúsculo universo particular, são eles que nos abrem horizontes, nos fazem ver o mundo através de novas lentes por algumas páginas, nos ensinam a olhar o diferente ao nosso lado não como um inimigo, mas como uma pessoa como nós. Como disse Mário Quintana “os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.

Precisamos nos ver nas páginas, mas também precisamos nos interessar pela história do outro. Livros são espelhos e janelas e o debate que acontece em ambos é o que move o Cheiro de Livro. Embora o nome do site tenha sido gerado pelo formato físico, a importância da palavra escrita – seja ela impressa em papel, pixel ou narrada em audiolivro – segue forte para todos nós.

Os livros mudam pessoas porque quem lê pratica empatia. Os livros mudam pessoas porque quem lê questiona – a si e os outros. Os livros mudam pessoas porque nós não somos constantes e é nessa inconstância que mora o aprimoramento.

Hoje, o mundo é outro. Ele está mais conectado e mais sombrio. Mas, como protagonistas de tantas histórias distópicas, nós sabemos que um vilão pode ser vencido. Basta que pessoas mudem o sistema. E se livros mudam pessoas e pessoas mudam o mundo, defenda o livro. Leia hoje e sempre, o que você quiser. Mas leia!

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