Em plena as comemorações dos 60 anos do final da Segunda Guerra Mundial me pareceu apropriado ler um romance histórico que fala exatamente desse conflito. ”Uma Praça em Antuérpia” é o primeiro livro que leio de Luize Valente e já fiquei fã, o seu primeiro romance, “O Segredo do Oratório” já está na lista para futura leitura.
Nossa protagonista é Cecilia, uma senhora que no primeiro dia de 2000 resolve contar para a neta Tita seu maior segredo, segredo que mantém desde sua fuga da Europa no inicio da Guerra. Mesmo esse segredo sendo revelado nas primeiras páginas vou deixar o leitor descobrir por si só. A conversa com a neta, a revelação do segredo, nos transporta para Portugal antes da Guerra. O primeiro terço do livro é dedicado ao infância de Cecilia, o amor da avó, o pai eternamente enlutado pela morte da esposa, a vida na Quinta. O romance começa a engrenar mesmo quando Cecilia chega a Lisboa, não que a primeira parte do livro não seja boa e interessante, mas do momento que Cecilia conhece Theodor até o final o livro ganha outro ritmo, um daqueles ritmos que não dá vontade de parar de ler.
Theodor, o grande amor de Cecilia, é um pianista judeu, polonês e comunista, não há combinação pior para alguém na Europa nas décadas de 1930 e 1940. Theodor está em Lisboa, uma Lisboa salazarista, depois de fugir de uma Alemanha já dominada por Hitler e o nazismo. É nesse clima que ele e Cecilia se apaixonam e, depois de algumas idas e vindas, se casam e vão viver na Bélgica. É na Bélgica, em Antuérpia, que se dá o episódio que dá nome ao livro.
A invasão da Polônia por Hitler e o inicio da Guerra fazem com que Cecilia e Theodor iniciem a jornada de fuga da Europa. É nesse momento que o romance realmente brilha. Quantos livros e filmes de guerra temos que nos mostram o front, o heroísmo dos soldados, a atitude dos lideres mundiais? Aqui, nessas páginas, a guerra é outra, é a guerra pela sobrevivência enquanto a Europa sucumbe diante do poderio alemão. É a historia das pessoas que querem apenas sobreviver, é a fuga em busca do simples direito de existir.
O relato da fuga da família Zus é igualmente triste e viciante. Luize consegue envolver o leitor, não conseguia colocar o livro de lado, queria saber como eles conseguiram sair de mais uma cidade, como conseguiram mais aquele visto, coo cruzaram a França, a Espanha, cada detalhe é mais triste e ao mesmo tempo impossível de parar de ler. A escritora de americana Ursula K. Le Guin em uma entrevista disse que mulheres não escrevem boas cenas de batalha porque para elas o fator humano conta mais, não pude deixar de lembrar dessa entrevista ao ler esse livro. Existem os bombardeios, os soldados, é um livro que se passa em plena a Guerra no final das contas, mas o que importa aqui são as pessoas, os refugiados, as famílias, a humanidade do cônsul português Sousa Mendes que concedeu vistos contrariando Salazar. É o que a guerra gera e não a frente de batalha.
Terminei o livro e fiquei com um gostinho de quero mais, fui logo comprar o outro romance de Luize, adorei sua escrita. É verdade que também fui ouvir Schubert, quem ler o livro vai entender porque.
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