Coluna

Vilões, heróis ou vítimas. Qual o papel do leitor nessa história?

Comecei esta coluna com a ideia de escrever sobre as diferenças entre o relacionamento do casal protagonista de “Cinquenta Tons de Cinza” na página e na telona. Mas outra ideia tomou conta de mim e tive que dar ouvidos.

Essa ideia também começa com Grey: nos livros eu vi um monstro, um homem possessivo e abusivo e que usa seu passado trágico e o abuso sofrido nas mãos de uma mulher mais velha para justificar suas atuais vontades. Mas no filme (leia a resenha), embora tudo que citei também se aplique, eu vi o homem por trás do monstro. Crédito para a boa escrita dos roteiristas, para a direção e para os atores – porque não é só Jamie que manda bem, mas Dakota também. Aqui, se um não “funcionasse” o outro se perderia assim como a química entre eles, essencial para o desenrolar da trama.

Enfim, digo isso tudo porque estou escrevendo sobre um vilão. Ele é um vilão complexo por ser datado, mas que precisa ser atualizado; um vilão que tem um passado trágico, mas que é apaixonado por uma mulher pura como um anjo; um vilão que é, em sua essência, um homem sofrido. E aí, ao ver os olhos penetrantes de Grey/Jamie e a linha tênue entre o sexy e o perigo, entre o amor e a dominação, comecei a me questionar: o que faz um vilão? Ou melhor, o que gostar de um vilão quer dizer sobre nós?

Abordei vilões e relacionamento abusivo no meu livro “Sou fã! E agora?” (Editora Seguinte), mas como todo texto, ele continua a ser um trabalho em aberto, sempre se transformando e nos transformando. Então mantenho o que escrevi naquelas páginas, mas adiciono em pixels aqui mais uma reflexão.

Não estou dizendo que Grey é um vilão, embora é possível questionar isso dependendo do ponto de vista. O que estou dizendo é que entendo o apelo que certos vilões têm. Refiro-me aqueles como Hannibal Lecter, Loki e tantos outros que nos fascinam. Penso neles como predadores: bonitos, insinuantes e estratégicos. Eles sabem como atrair suas vítimas para o bote final. E nós, fãs, somos as melhores vítimas porque além de cultuá-los, espalhamos para os amigos o quão incríveis eles são.

Então volto para o “meu” vilão, aquele que precisa nascer da minha mente, mas que ainda está preso no meu coração. Acho que essa é, atualmente, minha maior dificuldade ao escrever. Preciso me distanciar dele para poder dar-lhe vida, para poder entendê-lo por completo. O problema é que estou perdidamente apaixonada por ele e sei que é errado e, por Deus, como é que vou mantê-lo sendo um vilão se quero salvá-lo? EPIFANIA! Eu sou a mocinha! Ou será que toda leitora que quer salvar um vilão também é? Somos mocinhas ou vítimas? Ou ambas?

Minha protagonista é badass e passou por muita coisa. E sim, ela tem muito de mim e muito do que gostaria de ser também. Não direi mais do que isso, mas termino essa coluna com uma última reflexão: não sei se sou vítima, mocinha ou vilã ou se sou apenas uma escritora amadora e leitora apaixonada. Minha única certeza é que essa constante descoberta é, simultaneamente, frustrante e inebriante. E eu quero mais!

 

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