A série “A Seleção” chegou ao fim com a publicação de “A Coroa” e não sou uma leitora satisfeita.
Não, não estou satisfeita com “A Coroa”. Não é por razão do desfecho do livro, porque isso eu gostei bastante. Minha insatisfação é decorrente de falhas que considero graves no ritmo e no desenvolvimento de alguns conflitos. Foram poucas páginas para muitas soluções e pouco espaço para cada uma delas e isso, na minha opinião, feriu o livro que tinha tudo para ser diferentão e não foi. Puxa vida, Kiera Cass!
Muitos torcem o nariz para “A Herdeira” porque Eadlyn – filha de Maxon e America – é uma jovem decidida e fria. Mas ela foi lapidada para ser a próxima rainha e sua vida nunca realmente pertenceu a ela. Ela aprende na marra como é difícil conseguir lidar com o povo, com os sentimentos alheios e com os seus. Ela é prática e objetiva, mas não é blindada e, ao decorrer do livro, as falhas na sua armadura começam a aparecer e a ordem de seu mundo começa a ruir. E ela sente o que é não estar no controle de tudo e como isso é desesperador (escrevi mais sobre “A Herdeira”).
Sempre gostei de Eadlyn porque me identifiquei com ela. Só porque não se chora em público não quer dizer que o coração não sofre do mesmo jeito. Eady é minha home girl! E ler “A Coroa” foi uma delícia, porque a vi amadurecer não somente como governante, mas como mulher, como personagem. O trajeto de Eadlyn é muito bem escrito, mas Kiera passou muitas páginas tanto no primeiro livro quanto no segundo com a indecisão de Eadlyn quanto ao amor. Ela nunca decide de quem gosta e isso vira um lenga–lenga em “A Coroa”.
A partir daqui, vou contar spoilers na lata. Você foi avisado.
O gancho deixado no final de “A Herdeira” é bem resolvido e o estopim para uma tomada de decisão excelente de Eadlyn. Até aqui, ok. Aí entra em cena Marid, o filho de um casal que era amigo de Maxon e America, mas que rolou treta política e não se falam mais. Marid é lindo, conhece Eadlyn desde cedo e o povo o ama. Olha a torta de climão com um carinha que não é da Seleção entrando na disputa! Pois é. Eu curti esse twist, maaaaaas….. rola mais um twist mais para frente que poderia ter sido SENSACIONAL e foi meio blergh, solto e mal aproveitado. Não curti. Eu esperei por muito angst e cenas tensas e “tire as mãos dela, seu calhorda”, mas nem rolou.
Outra situação que foi mega valorizada nos dois livros é a triste realidade de que Aspen e Lucy não podem ter filhos. Falaram tantas vezes nisso que fiquei esperando um milagre ou uma adoção. Nope. Nada. Nenhum coelhinho desse arbusto, gente! Ok que a situação gera uma cena lindona entre Aspen e Eadlyn, mas não foi o suficiente, não pra mim (a leitora chata e exigente).
Uma coisa boa: Josie, que era MUITO MALA sente na pele o que é estar no lugar de Eadlyn e fica meio “Wow, que tenso! Quero ser você mais não”. Foi honesto e muito bom. Redimiu a personagem. Yay!
Mas aí Eadlyn demora séculos para se decidir com quem ficar e quando se decide, parece instalove. Sim, foi mencionado ao decorrer da história e eu meio que esperava (e até torcia) para que Eady escolhesse ele, mas quando ela finalmente se dá conta dos seus sentimentos, ficou meio fraco porque sua atenção tinha sido muito dividida antes. Sabe? (estou tentando não falar quem “ele” é para não estragar por completo. Eu curti muito a escolha dela e concordo muito!).
E foram dois livros de “eu não sei o que é amar” e “eu não sei de quem eu gosto” que eu queria muito vê-la se apaixonar. As poucas páginas e cenas entre ela e o gatinho escolhido são LINDAS, mas são poucas para a expectativa criada. Sem contar que quando ela toma a sua decisão, ela procura a ajuda do pai (outro momento fofo) e que se passa em sete minutos: o mesmo tempo que a separou do seu irmão gêmeo e a colocou a frente do trono e o mesmo tempo que ela tem para decidir seu futuro perante o povo. Achei o toque fofo e lindinho, mas não o suficiente.
Na boa, Maxon também faz uma revelação BOMBÁSTICA para Eady no final do livro e passa assim, POOF! Como assim?!
Eric fala uma frase em finlandês ao pé do ouvido de Eadlyn em uma cena e cadê que sabemos a tradução?
Uma coisa que foi muito legal é que temos um casal homossexual na história e VIVA DIVERSIDADE! Curti muito! Acho essencial o tema aparecer naturalmente em livros YA e foi tratado com seriedade necessária.
Mas uma questão que me doeu foi o “felizes para sempre”. Foi tão pique-um-dois-três que eu fiquei catando páginas escondidas no final do livro.
Enfim, “A Coroa” é um bom livro no sentido de desenvolvimento de personagem, mas pecou muito na correria para solucionar tudo. Fatores importantíssimos passaram batidos e alguns nem foram realmente resolvidos.
Escreve mais um, Kiera! Ou pelo menos contos! Hein, hein? #ficaadica
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