O primeiro texto que li de Nelson Rodrigues foi a coluna “Dragões de Espora e Penacho” é a coluna dele sobre a vitória da seleção brasileira na Copa de 1970. É impossível não se apaixonar por futebol lendo os textos de Nelson, tudo é épico, heroico e glorioso, uma leitura perfeita na semana em que a Copa da Rússia começa. “À Sombra das Chuteiras Imortais” compila crônicas de futebol que vai da derrota da Copa de 1950 até o tricampeonato em 1970.
As crônicas de futebol de Nelson Rodrigues são clássicos do nosso jornalismo esportivo o curioso é que ele enxergava muito mal e com isso via quase nada dos jogos que depois tornava espetaculares no jornal. Ler as crônicas é se apaixonar pelo esporte, pela sua imprevisibilidade e encontrar uma certa poesia mesmo na pelada do Aterro. Meu amor pelas crônicas de Nelson cresceu com os textos sobre o Fluminense, é claro, mas pessoas de todos os times pode, com facilidade, se identificar com os personagens criados. O meu preferido é o Sobrenatural de Almeida que entrava em campo para explicar aquela bola que bate nas traves, quica na linha e não entra no gol, que gerava lances inacreditáveis que fazem do futebol o esporte mais popular do mundo.
Foram nessas crônicas de futebol que Nelson cunhou a expressão “complexo de vira-lata” para falar da baixa autoestima dos brasileiros, nas crônicas de futebol Nelson mostra um povo que improvisa, que surpreende os adversários e que, como na final da Copa de 1958, vira o jogo. Alias, esse jogo da final contra a Suécia mostra a importância de Didi, “o príncipe Etíope de Rancho” segundo Nelson, que pega a bola do jogo e vai falando com cada jogador da seleção, o Brasil virou já no primeiro tempo com dois gols de Vavá. O terceiro gol é o mais famoso de todos, o de Pelé com direito a chapéu na área, o 5×2 foi finalizado com um gol de Zagallo. Uma história sobre a final de 1958 que adoro é que quando foi sorteado que a Suécia seria a seleção que usaria o primeiro uniforme, uma camisa amarela, teve um certo pânico na seleção. Nosso segundo uniforme era branco, cor do uniforme que a seleção usava na derrota da final de 1950, foi então que surgiram as camisas azuis, os jogadores foram convencidos que ela daria sorte porque azul é a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida.
Voltando a Nelson, reler essas crônicas e me deparar com frases como “o Fla x Flu começou cinco minutos antes do nada” mostra que mesmo as piores peladas tem sua poesia. Ler Nelson falando de futebol explica um pouco da devoção nacional ao esporte. Nesse mês de Copa do mundo essas crônicas são uma leitura perfeita.
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