Migo, quem é o homem meteoro?
Se você assistiu aos dois primeiros episódios de Anéis de Poder, que a Amazon liberou na última sexta-feira, muito mais do que dizer se gostou ou não gostou, você certamente se perguntou quem é o homem misterioso que caiu do céu. Ele é parecido com o Gandalf, sem dúvidas. Um velho de barba longa e cabelos cinza, desenhando runas esquisitas na terra que lembram o símbolo de Gandalf; o fato de sussurrar pro vagalume do mesmo jeito que Gandalf de Peter Jackson o faz em Sociedade do Anel… Será tudo isso uma alusão falsa para que a gente pense que é o Gandalf quando na verdade por trás das aparências se esconde o terrível e temido Sauron?
Há quem diga que pode ser o Tom Bombadil (cof cof ninguém falou, eu que queria que fosse haha), mas sabemos que não faria sentido algum trazê-lo para a série, da mesma forma que não fazia sentido colocá-lo na trilogia. O que já elimina também a possibilidade de ser alguém como Manwë ou Eru Illúvatar. Não vai ser ninguém tão distante da proposta principal da série, nem ninguém tão poderoso que impediria o desenvolvimento dos nossos queridos heróis e nossas queridas heroínas. Sem contar que a Amazon pegou os direitos dos apêndices, que, ainda que seja dizer MUITA coisa, tem suas limitações. Muita coisa de Silmarillion não vai poder entrar, por exemplo. Infelizmente.
Anyway, esse mistério não vai durar muito tempo. Para os leitores que conhecem o universo, é sabido que Annatar (Sauron disfarçado) é quem convence e ajuda Celebrimbor a forjar os anéis de poder. Nem todos, porque os três anéis dos elfos Celebrimbor forjou sozinho. Logo, em breve, essa figura, seja como Annatar (ou qualquer outro nome que eles queiram trazer pra série), vai nos revelar quem é Sauron.
E o homem meteoro não foi o único que veio pra causar. Halbrand, figura misteriosa que se alia à Galadriel no mar, tem um charme de vilão que chega a ser tão óbvio, que eu começo a desconfiar se é vilão mesmo. Meu corpo diz que é, afinal, imediatamente me senti atraída, e sabe como é, né… se eu tô atraída é porque é vilão, não importa quantos anos de terapia eu faça. Então alguma coisa com esse cara tem, mas não sei se o colocaria na posição de Sauron, talvez ele venha a ser o Rei Bruxo de Angmar, o Rei dos Nazgul. Não consigo vê-lo como Sauron e como ele conseguiria convencer Celebrimbor de qualquer coisa com aquela carinha de ‘escuto Foo Fighters e sou designer nas horas vagas’. Ou talvez, ele seja um vilão wannabe, pra gente se atrair, mas no final vai passar por uma prova sinistra e se tornará um grande herói da série. Sei lá. Tô numa vibe de que tudo é possível.
Afinal, se anãs não têm barba, agora pode tudo. Brincadeiras à parte, ainda que a anã não tenha barba na série e eu tenha sentido falta desse preciosismo de fã, toda aquela cena em Mória, com Dúrin e Elrond, a relação entre os dois, a discussão da passagem do tempo e como isso funciona na visão de cada um, a esposa de Dúrin sendo a voz apaziguadora, tudo, absolutamente tudo, inclusive a trilha que escolheram como tema de Khazad-Dûm, me deixou arrepiada e feliz. Senti uma satisfação de sábado fim de tarde, sabe? Como se eu estivesse na casa de velhos amigos, passando o tempo de forma tranquila, e me sentisse segura.
Mas ainda não é a sensação de tranquilidade que eu senti ao ver Sociedade do Anel. Ainda estou tensa constantemente a cada cena rezando para que tudo seja bem escrito e a série não vacile. Não entreguei ainda minha confiança para os desenvolvedores como entreguei para Peter Jackson, depois de apenas 5 minutos de Sociedade do Anel. Convenhamos, PJ errou, fez coisa ali que pelo amor de Eru cof cof destruição do personagem Faramir, mas ele acertou muito mais e a confiança já existia, como falei, desde o início do primeiro filme. Tipo seu melhor amigo falar merda ou fazer algo que te tira do sério, mas você ama mesmo assim.
Anéis do Poder mostrou a que veio, sem dúvida, é linda e é a coisa mais grandiosa blaster master ultra já feita pra TV na história, já ganhou seu marco e não sou eu nem você que poderá negar isso. Mas a relação acabou de começar e não somos mais adolescentes que nos apaixonamos em 5 minutos. Preciso construir a relação, independente dos livros, independente de Tolkien. A série precisa funcionar como série.
E é por esse motivo que estou adorando a relação que a série tem com os antepassados dos Hobbits, os Harfoot. Melhor tema da trilha sonora até agora, o que por um lado foi um alívio, mas por outro MUITO decepcionante! Eu esperava muito mais do tema principal para Lindon, Gil-Galad e Elrond e até para Galadriel. Com Howard Shore, a gente ganhou temas inconfundíveis de Rivendell e Lothlórien, Mória, Shire, Rohan e Gondor. Até Isengard e Mordor ganharam temas. Poxa. Faltou expressão sonora e identidade aqui na série com McCreary. É tudo meio que morno e parecido… O tema do Sauron é bacana, mas aí a série começa a aloprar e usar nas cenas com o elfo e a humana lá investigando a presença dos orcs, o que faz perder força. Cara, isso me quebra, porque eu sou extremamente fã de trilhas sonoras. E na equação é o que pode fazer a diferença de um filme/uma série épica memorável ou não. Todo mundo lembra dos elfos chegando em Helm’s Deep e, mesmo sendo uma inserção corajosa do PJ na história, indo contra o que o livro pregava, a gente amou, porque funcionou. E o que ajudou a funcionar em grande parte foi a trilha sonora.
Enfim, pelo menos a trilha da Nóri, nossa querida Harfoot aventureira, segura as pontas com honras. Essa parte da série dá leveza e o tom de histórias de fantasia dos anos 80 e 90 que vai certamente atingir o coração da galera dessa época com nostalgia, mesmo que a gente não perceba exatamente o que nos atingiu. Esses trechos têm cheiro de infância e trazem toda a magia de um passado distante. É pura perfeição.
E, por último, mas nunca menos importante, eu queria deixar algumas palavras sobre Galadriel. Galadriel foi sim líder e guerreira nos livros, lutou batalhas e, se sobreviveu pra contar história até o fim dessa longa jornada de praticamente toda a obra de Tolkien, é porque ela não era pouca coisa. Então dizer que ela não deveria ter a proficiência com a espada como a série mostra (e se aproveita da cinematografia), é ser preguiçoso e ignorante. Galadriel era isso e muito mais.
A série, inclusive, mostra um lado muito mais cego dela e quase “imaturo” ou inocente por conta do sentimento de vingança por ter perdido o irmão para Sauron. Nos livros, ela era mais implacável ainda. E sempre desconfiou de Annatar, sabe ler muito bem as pessoas, jamais se deixaria enganar por ninguém, muito menos um designer fã de Foo Fighters. Isso, risos, se Halbrand realmente se revelar vilão. Mas na série a gente aceitaria essa “enganação” pelo motivo que falei: ela é impulsiva e está cega de ódio.
Não sei quando Celeborn vai aparecer na história, ou se vai aparecer, mas é com quem ela se casa e tem Celebrían, filha esta, que se casa com Elrond e faz de Galadriel avó de Arwen. Essa informação talvez seja importante na série para fazer a junção com a terceira era de Peter Jackson, ainda que eles não possam usar nada dos filmes por questões de direitos autorais. Vamos ver.
Mas a pergunta que não quer calar é: Galadriel entrega na série? A gente compra o barulho dela? A resposta é um grande SIM. Estou enamorada. Aquela moça tem presença e, sendo ou não sendo a versão que você imaginou da SUA Galadriel jovem, traz uma personagem com muito potencial de ser desenvolvida ao longo da série. Ainda mais a gente sabendo quem ela se torna uma era depois. Nos livros, Galadriel é quem manda Gwaihir salvar Gandalf depois da queda em Mória, ela o ajuda a se curar e ela quem o veste com o manto branco que eleva Gandalf a uma nova fase. Gente, essa mulher não é pouca coisa. Não é à toa que a escolheram para ser o fio condutor protagonista dessa narrativa.
Tem muito chão ainda pela frente e confesso que minha expectativa para Númenor está alta, como não deveria, eu sei, mas não consigo controlar. Vamos torcer para que esse relacionamento dure e que seja MUITO BOM enquanto dure. O que a gente viveu e vive em Senhor dos Anéis e Harry Potter é raríssimo. Pensa no tempo que levou para construir a relação do mundo com as obras literárias, depois da construção do universo em uma nova mídia, ou várias novas mídias, e dos fatores e das circunstâncias que tornaram tudo isso que a gente viveu possível. Game of Thrones também é um bom exemplo disso. Só um fã entende de verdade a importância que uma história dessas tem para as nossas vidas.
E termino deixando aqui as palavras sábias de um velho amigo que diz muito sobre meu sentimento agora:
The Road goes ever on and on,
Down from the door where it began.
Now far ahead the Road has gone,
And I must follow, if I can,
Pursuing it with eager feet,
Until it joins some larger way
Where many paths and errands meet.
And whither then? I cannot say
“Escuto Foo Fighters e sou designer nas horas vagas”
XD
Eu sou designer e escuto Foo Fighters nas horas vagas, mas ainda me senti representado, saco!
Hahahaha. Ele tem cara que escuta Coldplay quando ninguém tá vendo tb.