Havia uma expectativa enorme em cima dessa nova adaptação para o cinema de um dos livros mais famosos e celebrados de Agatha Christie, Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, EUA, 2017), principalmente porque a primeira versão, de 1974, não é tão boa, apesar de ter seus fãs. Porém, as primeiras resenhas que foram publicadas, fora do Brasil, detonavam o filme, o que me deixou muito triste, porque essas críticas tendem a ter razão. Com a expectativa bem baixa, sentei na sala do cinema e acabei tendo uma boa surpresa.
Dessa vez, Kenneth Branagh dirige e atua como Hercule Poirot. O filme enche os olhos, com uma fotografia belíssima e um jogo de cena impactante. De Jerusalém a Istambul, acabando no pé de uma montanha com neve e um cenário estático, as escolhas de cortes e planos de Branagh são o principal ponto positivo do filme. Todo filmado em 65 milímetros, as cenas ganham um ar teatral quando o filme se fecha apenas no ambiente do trem. Outro fator importante para agradar ao público. Esse tom teatral nos filmes é uma característica da estética de Branagh, o que, particularmente, gosto muito, porém pesa um pouco nesse filme, o que o faz perder o ritmo. O roteiro foi adaptado por Michael Green, mesmo roteirista responsável pela adaptação de American Gods. Nesse trabalho, Green comete o mesmo erro que na série, ele tenta usar tudo o que está no livro, rendendo algumas barrigas. Na série esse preciosismo acaba sendo diluído nos capítulos, no filme acarreta em uma queda no ritmo e o torna até confuso, mesmo para quem conhece a história.
No filme, Poirot está de férias em Istambul quando descobre que precisa retornar a Londres para um novo caso. Bouc, um velho amigo, oferece que ele retorne no luxuoso e famoso trem Expresso do Oriente. O trem está lotado, com passageiros bem diferentes entre si, todos vividos por um elenco estelar: Penélope Cruz, Willem Dafoe, Judi Dench, Josh Gad, Derek Jacobi, Leslie Odom Jr., Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley, Olivia Colman, Sergei Polunin e Johnny Depp como o gangster Samuel Ratchett. No meio da noite, Ratchett é assassinado e cabe a Poirot descobrir quem é o assassino entre os passageiros do trem.
O primeiro ponto positivo do filme é escalar Depp como a vítima, porque além de sua imagem desgastada, por conta das sérias acusações feitas, contra ele, por sua ex-namorada, parece que Depp também não consegue deixar de ser Jack Sparrow, da franquia Piratas do Caribe. Logo, ele participar de uma pequena parte do filme é um presente. Apesar da eterna atuação caricata de Depp, todos os outros atores compensam em talento, até mesmo o bailarino clássico Sergei Polunin, que não é ator, consegue estar bem no filme. O Poirot de Branagh é bem mais contido que o personagem original de Christie, mas sem perder os maneirismos. Ele acaba sendo mais inglês do que belga, mas ainda é bem melhor do que a atuação histriônica de Albert Finney no drama de 1974.
Cenário, figurino, locações, atuações, tudo funciona muito bem no filme de Branagh, só podia ser mais enxuto. Seu clímax é construído de forma fraca, já que o filme se perde um pouco do meio pro fim. Porém essa adaptação tem seu mérito sim por ser tão bem montada, com atuações excelentes, além do fim que joga no ar uma possível adaptação de outro livro de Agatha Christie. Quando os créditos começaram a subir, cheguei a conclusão que gostaria de ver Branagh como Poirot mais uma vez, ele me convenceu.