Estação Onze, de Emily St. John Mandel (Intrínseca, trad. Rubens Figueiredo), estava na minha pilha para ler há muito tempo. Já foi mencionado aqui pela Rapha, e até já dei de presente – mas por um motivo ou outro não conseguia chegar nele. A estreia da série da HBO finalmente colocou o livro de volta na frente da fila.
Entre os vários prêmios e indicações, Estação Onze ganhou em 2015 o prêmio Arthur C. Clarke, que geralmente escolhe obras inovadoras, que ampliam as fronteiras do gênero da ficção científica. O Conto da Aia, de Margaret Atwood, foi o primeiro ganhador.
A história começa com três personagens – um ator mais velho, uma atriz infantil, e um paramédico que se encontram meio por acaso às vésperas do estouro de uma terrível pandemia. É muito pior do que a da Covid-19: o vírus de uma super-gripe mata 99% da população do planeta. Mas calma: se você não aguenta mais ouvir falar disso, não se preocupe. Essa não é a história de uma pandemia.
Damos um salto de uns 20 anos, e vemos uma sociedade que entrou em total colapso: sem comunicações, sem energia elétrica, sem combustíveis. A autora diz que um dos objetivos era enxergar uma sociedade tecnológica através da falta dessa tecnologia. A menina do prólogo, Kirsten, é atriz com uma troupe itinerante que vai de cidade em cidade interpretando, quase sempre, Shakespeare. Em flashbacks, aos poucos vamos vendo como as vidas daquelas três personagens se entrelaçam até a conclusão.
A pandemia nem é o maior perigo que Kirsten e sua troupe enfrentam – o problema maior mesmo é a violência daqueles que se sentem no direito de explorar os mais fracos. Mas até o vilão da história tem sua tragédia pessoal.
A canadense Emily St. John Mandel não está interessada na pandemia em si, e a lenta reconstrução da sociedade é secundária. O foco do livro está nos relacionamentos: nas conexões, às vezes inesperadas, que fazemos ao longo da vida. E também nos rompimentos, muitas vezes banais – uma desatenção aqui, um pouco de egoísmo ali, uma falta de sensibilidade num momento crucial. Detalhes que às vezes só percebemos quando já é tarde demais.
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