Braulio Tavares é um dos nossos principais escritores e editores fantásticos. A antologia editada por ele Páginas do Futuro é uma excelente introdução à Ficção Científica brasileira. Também traduziu os grandes mestres, de H. G. Wells e Isaac Asimov, até os mais atuais como Jeff Vandermeer. Conhece o gênero por dentro e por fora. Ainda traduziu Raymond Chandler, é especialista em literatura de cordel, estudioso de Ariano Suassuna e ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura Infantil. Essa riqueza de fontes e influências está presente agora na coletânea Fanfic (Editora Patuá).
O autor deixa claro na introdução que essas são ficções inspiradas na leitura de outros autores. Grande parte nem é Ficção Científica hard, está mais para o realismo mágico. Então temos uma pitada de Kafka, uma referência a Heinlein, e por aí afora. Tentar decifrar as fontes é parte da diversão. A maioria vem sob a forma de micro-contos de duas, três páginas, fragmentos até, mas cada uma lapidada com grande precisão. Braulio tem um vocabulário rico, e cada palavra é escolhida com muito cuidado.
Numa coleção tão variada, se tem um elemento comum é a narrativa de visitantes. Temos OVNIs e as diferentes reações que desperatm ao redor da Terra, visitantes de outra dimensão que se deparam com uma “fera” numa cidadezinha do interior, um músico que vai se apresentar numa cidade do sombria do leste europeu, turistas espaciais numa aventura num mundinho insignificante chamado Terra, e um brasileiro astronauta quase por acaso que faz um Primeiro Contato que lhe dá um novo objetivo.
Com tantos contos curtinhos, esse é daqueles livros que a gente pode ler de uma tacada só. Mas sugiro resistir à tentação, e ler aos pouquinhos. Assim cada ideia, cada pequena dose de surrealismo pode ser devidamente apreciada. Até porque, se tem muito humor, cuidado: também tem muito pesadelo.
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