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Futuro? Que Futuro?

Que futuro podemos esperar para uma região tão presa ao passado, e com um presente tão incerto? Pois tem gente que tenta imaginar o futuro do Oriente Médio. 

A antologia “Palestine +100” oferece visões de um amanhã sem muito otimismo. Segundo a editora Basma Ghalayini, a ficção científica não é um gênero popular entre os palestinos porque o escapismo é um luxo ao qual a maioria não pode se dar. Basma vive em Gaza, e diz que a maioria dos palestinos já vive numa distopia. Por isso, normalmente se espera que os escritores retratem a dura realidade do presente. Os autores de “Palestine +100” pensam no que será dos palestinos em 2048, 100 anos depois do que chamam de Nakba, ou “a catástrofe” – a fundação de Israel. E nos 12 contos, o tom é mesmo de distopia, com personagens que frequentemente vivem em mundos virtuais alternativos – o que parece ser a única saída para os palestinos, mesmo no futuro. 

A mesma editora já havia publicado uma antologia semelhante, “Iraq +100”, imaginando o país um século depois da invasão americana. A ocupação do Iraque também é o tema de “Frankenstein in Baghdad”, de Ahmed Saadawi, em que um homem costura pedaços de corpos de mortos pela violência na capital iraquiana – com resultados terríveis. É um brilhante retrato da crueldade da guerra e da ocupação, em que o desejo de vingança e retribuição só faz realimentar a violência. 

E tem o outro lado. Não faltam autores judeus de ficção científica: Isaac Asimov, Harlan Ellison, Robert Silverberg, só pra mencionar os mais conhecidos. Mas quando se fala de autores israeleneses – e essa é uma distinção importante – a expectativa é sempre de obras que lidem com a realidade. Zion’s Fiction tenta corrigir isso, com 16 histórias com uma grande variedade de temas, embora muitas também pendam para o lado sombrio. Dois dos contos mais fortes lidam com o que resta depois de uma invasão alienígena devastadora, e uma catástrofe que dizima a população.

Um desses autores israelenses merece um capítulo à parte. Lavie Tidhar tem uma obra rica e diversa, navegando do steampunk à história alternativa. Nessas outras histórias, já abordou do Holocausto ao terrorismo, e recentemente uma visão moderna da lenda do Rei Artur. O conto dele em Zion’s Fiction é um dos capítulos que formam o romance mosaico Central Station. Numa Tel Aviv / Jaffa do futuro, aquela que foi a primeira estação ferroviária do Oriente Médio agora é um porto espacial em que se entrelaçam as histórias de vários personagens.

Enquanto escrevo, anuncia-se mais um cessar-fogo. Não vai ser o último. Vai ser preciso romper com o passado para construir o futuro.

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