Livros Resenhas

Morreste-me

No momento em que nos aproximamos de 500 mil mortos pela covid me vi pensando em quantas pessoas estão vivendo o luto. Como se faz essa conta? Sem nenhuma base científica multipliquei o número de mortos por 4. Dois milhões de pessoas enlutadas tendo que conviver com perdas em um momento que nem mesmo os rituais da morte podem ser todos feitos. Foi pensando nessa dor que demora a passar que fui a minha estante reler “Morreste-me” de José Luis Peixoto. Um livro pequeno, 60 páginas, mas que trata exatamente do luto.

“Morreste-me” é o primeiro livro de Peixoto, mas não o primeiro livro que li dele. Estava em um momento buscando escritores de língua portuguesa e fiz muitas compras internacionais de livros, explorei diversos amigos e familiares para trazer livros e entre eles veio esse. O texto fala da morte do pai do autor, sua doença, as idas ao hospital, a deterioração da saúde e, principalmente, sobre a falta a ausência.

Peixoto tem uma prosa com um quê de poesia e aqui nesse primeiro texto publicado isso já está presente. Há toda a tristeza do narrador indo a casa do pai vazia, lembrando dos momentos finais e principalmente dos momentos bons. Cada cômodo traz em si a dualidade da saudade e da dor. É o luto sendo vivido nas páginas com pitadas de poesia. São as palavras fazendo com que o autor conseguisse processar a perda do pai.

Uma das maravilhas da literatura está em nos ajudar a processar sentimentos que não conseguimos nomear através da palavra de outrem. A escrita tem esse poder de funcionar como espelho e ajudar o leitor a encontrar seus próprios caminhos em situações análogas as que estão nas páginas. Em um momento em que boa parte do Brasil e do mundo está de luto talvez ler essas 60 páginas seja uma pequena forma de conseguirmos ultrapassar esse momento de tanta dor.

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