Fiquei um tempão debatendo comigo mesma sobre o que deveria ser essa coluna. Me apegaria ao mundo dos livros onde podemos mergulhar e esquecer do que nos cerca ou levantaria a cabeça da página e falaria sobre o que vivemos? Escolhi a segunda opção. Estamos em pleno período eleitoral e seria uma violência contra mim mesma falar sobre outro tema.
A política é a arte ou a ciência de organizar e administrar e isso implica em conversar e articular com os diferentes. O que vemos aqui no Brasil, e no mundo hoje, é a reprodução ampliada do mundo da bolha que as redes sociais possibilitaram, ou seja, conversamos apenas com quem pensa e age como nós e nos tornamos alheios a tudo que nos é diferente seja em comportamento seja em pensamento. O prolongado viver dentro da bolha faz com que acreditemos que o mundo é assim como concebemos. Quando somos confrontados com a diferença ela nos choca e, muitas vezes, não sabemos como encara-la. É exatamente quando nos deparamos com o que nos é estranho, que os problemas realmente começam. É nesse momento que o ser humano, muitas vezes, reage com medo e esse medo pode, e muitas vezes, leva ao ódio cego. É um mecanismo de defesa natural, se ataca antes de ser atacado, não se tenta entender o outro, ele é diferente logo não pertence aqui, deve ser extirpado para que eu possa voltar a minha zona de conforto onde todos são como eu.
Nosso crescente isolamento em bolhas faz com que percamos a nossa capacidade de lidar com as diferenças e isso transborda para a política. Deixamos de ter adversários e passamos a ter inimigos. A diferença entre os dois? Adversários se vence dentro das regras estabelecidas, inimigos eliminamos. Na política precisamos de diversidade, qualquer sociedade é feita de muitas realidades e todas elas devem ser representadas e ouvidas, não eliminadas. Precisamos reencontrar a nossa capacidade de dialogar, de compreender o que motiva o outro e o que nos motiva. Nos compreendemos melhor quando somos desafiados e isso só ocorre quando somos confrontados com o que desconhecemos.