No final da década de 1980, um dos meus seriados favoritos era “Shazam!” Sobre Billy Batson, que ao gritar SHAZAM – um acrônimo formado pelas primeiras letras dos nomes dos imortais: Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio – ganhava poderes e se transformava no Capitão Marvel. A série era completamente voltada para o público infantil e no fim de cada episódio o Capitão Marvel e o Mentor davam uma lição de moral. Também havia o desenho da Família Marvel, com Billy, sua irmã Mary Batson e o jovem Freddy Freeman. Tanto a série quanto a animação tinham um tom mais leve, momentos cômicos e completamente voltado para o público infanto-juvenil.
É o tom de comédia e o fim dos anos 1980 que inspiraram a mais nova produção do universo DC para o cinema: Shazam! (EUA, 2019). Tudo começa em 1974, quando Thad Sivana é magicamente transportado para a montanha onde vive o Mago Shazam, que protege o mundo dos demônios dos Sete Pecados Capitais. Thad descobre que não é merecedor de receber os poderes do Mago e passa a viver obcecado com isso. Muitos anos depois, em nosso tempo, na Filadélfia, o jovem Billy Batson é um órfão de 14 anos, com problemas com a polícia e que passou boa parte da sua vida em vários lares adotivos. Por fim ele acaba num lar temporário e, assim como Sivana, ele conhece o Mago Shazam que percebe que Billy é quem deve receber seus poderes e continuar seu trabalho.
Shazam! é, sem dúvida alguma, o filme mais leve e divertido do universo cinematográfico da DC, com doses de nostalgias e referências a vários filmes infantis dos anos 1980 e 1990. Apesar de acontecer em nossa época (provavelmente final de 2018), ele tenta ser atemporal e funciona para o público mais velho. Mas ele funciona muito bem para o público jovem também, com ótimas piadas e referências dentro do próprio universo da DC. O elenco juvenil ajuda muito, começando por Asher Angel que faz o jovem Billy Batson, passando pelo ótimo Jack Dylan Grazer, um ótimo Freddy Freeman, que rouba todas as cenas em que aparece. Como Shazam (que deveria ser Capitão Marvel), temos Zachary Levi, que convence como um adolescente de 14 anos desconfortável no corpo de um adulto.
Um dos problemas do filme, para mim, é ter muitas piadas para meninos de 14 anos, mas para meninos que tinham 14 anos no fim dos anos 1980. Por um tempo isso funciona porque combina com o ar nostálgico que o filme tenta passar, mas logo cansa. Por outro lado, o filme dialoga bem com a série e a animação ao manter o tom leve, as mensagens positivas e até por acabar sendo um filme de Natal (que eu amo). Também é divertida a brincadeira de como Billy irá se chamar como herói, já que agora o nome Capitão Marvel pertence à Marvel. A dupla Zachary Levi e Jack Dylan Grazer funciona muito bem, sem ficar estranho e com referências ótimas ao filme “Quero Ser Grande”. Infelizmente a DC continua tendo problemas para desenvolver seus vilões e todo o plot do Doutor Sivana é chato e forçado. Aliás toda a parte da magia precisa ser mais bem trabalhada porque fica meio solta no filme como se estivéssemos vendo uma história já começada. Mas o resultado final de Shazam! é positivo. Um filme leve, brincalhão, sem grandes cenas de luta eternas e total foco nas atuações das crianças que são ótimas. É ótimo sair do cinema com uma sensação de voltar no tempo de forma positiva, mas só saia depois do fim dos créditos, porque existem duas cenas pós-créditos.