Livros

Contando histórias

Demorei pra escrever e publicar a coluna de hoje. Estourei o deadline. Como a nossa Carol desabafou outro dia, 2020 foi difícil, e 2021 não começou muito melhor. Eu queria mudar de assunto, escrever sobre outros temas. Mas então me toquei que semana passada fez exatamente um ano que estou escrevendo quase diariamente sobre a pandemia. 

Na vida real, sou jornalista (o que não deixa de ser uma forma de literatura), e foi no comecinho de Janeiro de 2020 que escrevi algumas das primeiras notas sobre uma nova espécie de pneumonia que estava atingindo uma região da China. Uma nota, duas, três, e no quarto dia o número de mortes estava explodindo e virou reportagem do correspondente na Ásia. O resto vocês já sabem.

Ao longo do ano eu e os meus colegas contamos muitas histórias da pandemia. Algumas pareciam tiradas da literatura de ficção científica ou horror, outras superaram a imaginação até de escritores especializados em especular e extrapolar a realidade. Às vezes a gente se questiona – lá no começo, por exemplo, foi duro decidir se deveríamos ou não dizer que em certos lugares os médicos estavam sendo obrigados a escolher quem ia viver ou quem ia morrer, que os necrotérios estavam cheios e não tinha caixão pra todo mundo. Por mais experiente e acostumado a lidar com desgraças que seja, nessas horas o jornalista perde o prazer de contar uma história. Aí entra em jogo um outro lado da profissão, que é o sentido de cumprir o dever. 

A gente precisa dizer certas coisas, por mais duras que sejam. A gente precisa informar, divulgar. Só quem tem informação de qualidade pode tomar decisões e fazer escolhas. Não dá pra dizer “cansei, vou fazer outra coisa.” Algumas situações precisam ser expostas, interpretadas. A gente tem uma história que precisa ser contada. É uma história que estamos todos escrevendo juntos, público e escritores/jornalistas, através não só das palavras, mas com nossas ações no dia a dia.

Vamos juntos, uma frase, um capítulo de cada vez.

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