Coluna

ELRIC – 60 ANOS

O Senhor dos Anéis ainda era recém-publicado (1954-1955) quando um jovem londrino resolveu desconstruir o que ele considerava uma fantasia conservadora e antiquada. Michael Moorcock tinha apenas 21 anos quando publicou The Dreaming City, a primeira história de seu trágico anti-herói, Elric, um dos personagens mais fascinantes da literatura fantástica.

Moorcock virou tudo de cabeça pra baixo: o albino Elric, Príncipe de Melniboné, tem fraquezas físicas e psicológicas, e depende de uma mistura de ervas (drogas) para sobreviver. Ganha poderes quando empunha a espada negra Stormbringer, mas a um preço alto: a espada se alimenta das almas das vítimas. Ele ainda faz um pacto com Arioch, Lorde do Caos, para ganhar mais poderes, mas o acordo também traz cobranças terríveis pelo Duque do Inferno.

Em The Dreaming City, Elric tem seu trono usurpado pelo primo Yrkoon. Este também cobiça a própria irmã, Cymoril, apaixonada por Elric. A tentativa de reconquistar o trono acaba em tragédia, e Elric passa a vagar pelo mundo numa série de aventuras sombrias e marcadas pelo conflito entre Lei e Caos. Elric é imperfeito, e apesar das boas intenções, suas tentativas de ir contra o Caos geralmente têm resultados que não estavam nos planos.

Moorcock chegou a visitar Tolkien em Oxford, e o considerava agradável como pessoa, mas antiquado como autor. Chegou a chamá-lo de “cripto-fascista”. Para Moorcock, a visão de mundo de Tolkien era a de alguém contrário a mudanças e que preferia manter o status quo.

As aventuras de Elric ganharam várias versões para os quadrinhos, inicialmente ilustradas pelo amigo de Moorcock, James Cawthorn. E uma versão talvez definitiva nas cores e traços psicodélicos de P. Craig Russell.

O autor ainda expandiu sua visão num Multiverso de dimensões paralelas, com Elric sendo uma das encarnações do Campeão Eterno, também representado por personagens como Corum e Hawkmoon. Sem falar em Jerry Cornelius, agente secreto de aventuras lisérgicas.

Moorcock não revolucionou o gênero apenas como escritor, mas também como editor. Ainda nos anos 1960, assumiu a revista britânica New Worlds e passou a publicar autores da New Wave da Ficção Científica como J. G. Ballard, Brian Aldiss e Norman Spinrad, causando tanta polêmica que a revista foi até tema de debate no parlamento britânico. Moorcock rompia com o trio Asimov-Clarke-Heinlein em favor de uma visão com especulações sociais como a de Philip K. Dick. 

Ao criar seu anti-herói, Moorcock fazia um alerta: para ele, as motivações dos heróis não são confiáveis. Seguir cegamente os ídolos supostamente perfeitos é um erro, e leva a caminhos perigosos. “Eles sempre nos traem, e ter esses heróis na vida real é uma traição a nós mesmos.”

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