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Fugindo da Terra

Como já disse a Rapha, 2020 não está fácil… mundo em chamas, oceanos subindo, pandemia, e a intolerância botando gasolina no fogo. Só fugindo daqui e recomeçando em outro planeta. Até o Stephen Hawking defendia essa tese, de que a raça humana não sobreviveria muito tempo se não tivesse uma segunda opção. Mas será que conseguimos?

O protagonista de Non-Stop (Brian Aldiss, 1958) tenta resgatar a mulher, sequestrada por uma tribo rival num mundo selvagem. Mas logo descobre que a “selva” são os corredores de uma espaçonave geracional – projetada para que os netos dos netos dos tripulantes originais enfim colonizassem outro planeta. Só que ao chegar ao destino, os colonizadores foram dizimados por… uma pandemia. Os sobreviventes deram meia volta, mas a vida a bordo se deteriorou no caminho. E pior: pelas contas deles, já deveriam ter chegado de volta à Terra… o que mais pode ter dado errado?

Aurora (2015), de Kim Stanley Robinson, segue um roteiro semelhante, mas começa mostrando a chegada ao planeta-destino, e a praga que dizima os primeiros a pisar no solo. Parte da tripulação segue numa nave para tentar colonizar outro planeta, enquanto outra parte fica com a nave-mãe para tentar voltar à Terra. A situação a bordo se deteriora, uma bactéria (surpresa!) destrói os alimentos, mas eles chegam… só pra enfrentar a rejeição em casa por terem desistido e voltado. A protagonista resolve que a saída é tentar recuperar este planeta aqui mesmo.

Já falei aqui da brilhante série Planetfall, de Emma Newman, em que o foco está mais na psicologia das personagens em vez dos conceitos macro de Robinson. Mas os fanáticos religiosos que montam a expedição colonizadora cometem um grande pecado: do alto de seu egoísmo (não querem que outros venham seguí-los), resolvem não deixar nada pra trás, e provocam um cataclisma nuclear que destrói a Terra. Caminho sem volta (aguardando ansiosamente o próximo volume).

No recente The City in the Middle of the Night (2019), Charlie Jane Anders nos joga para um futuro muito distante. Não sabemos exatamente o que aconteceu na Terra, mas aqueles que fugiram para salvar a raça humana descobriram que o planeta de destino era altamente inóspito, com uma pequena faixa habitável entre um lado eternamente banhado pelo sol (e quente demais), e a outra metade em noite eterna (e muito gelada). Não só isso, mas levaram com eles tudo o que temos de pior: a intolerância, a cobiça pelo poder, o descuido com o meio ambiente. É uma sociedade à beira do colapso, cuja sobrevivência pode depender da integração com uma espécie local, até então vista como animal irracional, e que quase foi destruída pelos colonizadores.

Então, que tal cuidar mais do que a gente tem aqui mesmo, ajudar um ao outro, escolher líderes sensatos, e tentar fazer a humanidade dar certo, antes que seja tarde?

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