Livros Resenhas

Spinning Silver

Naomi Novik fez um sucesso extraordinário com a série Temeraire. Depois, com Enraizados, partiu para releituras do folclore europeu. Spinning Silver (ainda sem título em português) é o segundo romance dela nessa linha. Embora não tenha nada a ver com o anterior (são livros independentes, um respiro num gênero lotado de séries), começa a formar um conjunto interessante.

Agora, a fonte é “Rumpelstiltskin”, lenda do folclore alemão eternizada pelos Irmãos Grimm. Na versão original, uma jovem é sequestrada por um rei que acredita que ela tem o poder de transformar palha em fios de ouro. Para não morrer, ela é obrigada a aceitar a ajuda de um duende com más intenções. Aqui, a coisa é bem mias complicada. O tal rei lidera os Staryk, elfos da neve, cruéis com os humanos e que controlam o inverno, quando muitos humanos passam fome. Ele quer que Meryem transforme a prata, que os Staryk têm em abundância, em ouro, que é muito mais raro. Por outro lado, as jóias que ela cria com a prata dos Staryk têm poder, e ajudam uma jovem humana de família nobre a encantar o jovem Czar – que por sua vez é possuído por um demônio de fogo…

São várias histórias entrelaçadas que Naomi Novik maneja com extrema habilidade. Nesse país que é uma Rússia medieval fantástica, a família de Meryem é judia, e enfrenta o antissemitismo que os judeus sofreram durante séculos na Europa. O pai de Meryem empresta dinheiro aos moradores do vilarejo, mas não é um agiota aproveitador, pelo contrário: os devedores é que exploram a boa vontade dele e não pagam nunca, e ainda tratam a família dele com desprezo. 

Meryem chama a atenção do elfo ganancioso quando assume os negócios do pai para tirar a família da miséria. Paralelamente, ela ajuda outra jovem, Wanda, filha de um dos devedores. Wanda e os dois irmãos sofrem abusos de um pai violento, e encontram abrigo na família judia. 

Naomi Novik

As três – Meryem, Wanda e Irina, a noiva obrigada do Czar – lutam para controlar o próprio destino num mundo extremamente machista, onde a única função das mulheres é casar e fazer filhos. E ainda são personagens com personalidades distintas. Novik começa o livro alternando os pontos de vista, com capítulos narrados em primeira pessoa pelas três. Depois abre ainda mais o leque, incluindo até os homens – um dos irmãos de Wanda, e até o próprio Czar.
Em certos trechos o livro se arrasta um pouco. As narradoras de Novik descrevem tudo nos mínimos detalhes. Mas isso dá à narrativa fantástica um tremendo realismo. E apesar de usar uma oposição entre verão e inverno, esse não é um mundo dividido claramente entre Bem e Mal. O tempo todo as personagens são forçadas a fazer escolhas morais complexas, e cada decisão traz consequências. Até os vilões – o rei Staryk e o Czar – são prisioneiros de circunstâncias que não criaram.

Spinning Silver é prova definitiva do amadurecimento de Naomi Novik, e já me deixa ansioso pelo próximo trabalho dela.

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