Enquanto esperava o inicio de mais uma temporada de “The Morning Show” fui ler sobre o seriado e acabei descobrindo que a inspiração para o empreitada da Apple+ vinha de um livro chamado “Top of Morning” escrito pelo jornalista Brian Stelter (ele não tem edição em português). Sou dessas que vê a série e lê o livro e foi sem qualquer informação sobre o que iria ler além da relação com a série que comecei a ler. Uma grata surpresa sobre jornalismo televisivo americano, em relação a saber os rumos da série esse livro não ajuda em nada.
Esse não é um livro de ficção, é sobre as manhãs jornalísticas na TV americana e seus bastidores. Antes de qualquer coisa deixa eu explicar uma coisa para que os brasileiros consigam entender porque jornais matinais merecem um livro e sua importância para a sustentabilidade de todo o departamento de jornalismo de uma uma TV. Não pense neles como um Bom dia Brasil americano e sim como algo que junta o Bom dia Brasil, com o Mais Você, com o Encontro com Fátima, com umas pitadas de Balanço Geral e Leão Lobo. São programas que passam 4 horas no ar e fazem um misto de noticias com entretenimento, essa mistura garante audiências altas e centena de milhões de dólares o que garante com que o departamento de jornalismo se pague e sobreviva sem muitos sustos com seus custos.
O livro fala de um período pré Me Too, o que talvez explique como homens conseguiam decidir destino de profissionais mulheres sem qualquer participação das mesmas e, principalmente, como fazer a troca de alguém mais velho por uma versão mais nova fosse considerado não apenas necessário como também aceitável. A narrativa começa com uma demissão que foi traumática no líder de audiência o “Today Show”, a saída da ancora Ann Curry. A demissão abrupta foi o início do fim de um domínio que o programa tinha há 16 anos, ou quase 300 semanas, como líder absoluto de audiência. Stelter descreve com detalhes como a decisão de promover Curry foi tomada e como, apenas 18 meses depois, os mesmo executivos decidiram que ela tinha que ser demitida. A trama é bem interessante e, vendo de longe, com tantos furos que qualquer pessoa poderia dizer que iria dar muito errado, mesmo que fosse a decisão correta.
Stelter fala sobre como esses programas foram criados e como eles se sustentam na TV, conta seus históricos e foca nos apresentadores. Ele não se limita a falar dos dois principais programas, Today e Good Morning America, fala também dos concorrentes menos vistos que estão em outras emissoras ou até na TV a cabo. É um mundo bem distante do que temos na TV brasileira e talvez seja difícil acompanhar de quem se está falando e da dimensão de tudo que está sendo relatado. Tive que recorrer algumas vezes a wikipedia e ao youtube em busca de contexto e de colocar uma cara ao que estava lendo. Mesmo com esse percalço o livro é um prato cheio para quem curte bastidores.
Na edição que comprei existe uma adendo onde Stelter fala sobre a acusação de assédio que levou a demissão de Matt Lauer. É nesse ponto que o livro se conecta ao “The Morning Show” e começa a fazer algum sentido a inspiração. Há histórias e caracterizações que são exploradas na série e passa a ser impossível não fazer paralelos mesmo que a série e livro contem histórias distintas. É um caso de leia o livro e veja a série e não tome nenhum spoiler.
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