PRÊMIOS HUGO 2022
A noite de domingo (4/9) é o momento mais esperado da Convenção Mundial de Ficção Científica em Chicago (Chicon8). É a entrega do Hugo Award, o principal prêmio para os melhores do ano na Ficção Científica e Fantasia, com votação dos participantes da convenção e apoiadores. O nome do prêmio é uma homenagem ao pioneiro Hugo Gernsback, editor da primeira revista especializada em FC. É a noite em que todo mundo se produz, público e indicados. Muito brilho, muita cor, tiaras, vestidos com estrelas.
As mestres de cerimônias Charlie Jane Anders e Annalee Newitz, assim como na abertura, estão afiadas, e arrancam muitas risadas com as piadas, sempre com uma pitada de ficção científica. As duas também saem com alguns prêmios: Melhor Podcast (Our Opinions Are Correct), das duas, e Melhor Obra Relacionada (não-ficção) para Charlie Jane e seu Never Say You Can’t Survive, um guia de sobrevivência para escritores ao longo da pandemia (resenha aqui).
Outra que sobe ao palco várias vezes é Seanan McGuire: ela recebe o de melhor Fanzine (Small Gods), pelo artista Lee Moyer, parceiro dela no fanzine, e ainda por Melhor Série (Crianças Desajustadas, que tem três volumes publicados aqui pela Morro Branco).
A revista Uncanny (meu voto) ganha pela sexta vez, e o editor Neil Clarke, na décima indicação, ganha pela primeira vez como Melhor Editor (sua revista Clarkesworld já levou três). Clarke tem sido uma figura importante para a internacionalização da FC, publicando muitos autores da Ásia e até do Brasil.
A tendência dos últimos anos se repete, com mulheres ganhando merecidamente em todas as categorias principais. N. K. Jemisin ganha pela quinta vez, agora por uma graphic novel do Lanterna Verde, Setor Final (Panini).
Sarah Pinsker leva o segundo Hugo pelo conto “Where Oaken Hearts do Gather”, uma fantasia/horror folk contada em forma de fórum de mensagens na internet, publicada na Uncanny. Foi o meu voto.
Suzanne Palmer ganha o segundo pela noveleta “Bots of the Lost Ark”, publicada na Clarkesworld. Ela também ganhou em 2018 pela primeira aventura de seus robozinhos independentes e aventureiros.
Becky Chambers (que ainda se recupera de Covid e por isso não foi) ganha pela novela Salmo para um Robô Peregrino (Morro Branco). Também é o segundo dela.
E o melhor romance foi para mais uma bicampeã: Arkady Martine, por A Desolation Called Peace, continuação de A Memory Called Empire. Foi o meu voto também. Arkady é o pseudônimo da Dra. AnnaLinden Weller, historiadora especializada no Império Bizantino e que trabalha em planejamento urbano e ambiental. Ela fez um discurso forte, e definiu Memory como uma história sobre o que fazer quando você se apaixona por uma outra cultura que está devorando a sua própria, e Desolation como uma busca por respostas melhores do que violência apocalíptica quando você encontra uma coisa tão estranha que chega a ser incompreensível. Ela diz que tudo o que tenta fazer, seja na literatura, no trabalho de planejamento urbano, na própria vida, foi influenciado por um texto que leu quando estudava história, sobre o encontro entre o imperador Inca Athahualpa e as forças do conquistador espanhol Francisco Pizarro, quando o desencontro de narrativas, a incompreensão mútua e ideologias de império resultaram num massacre. Ações que para um lado são tão incompreensíveis, que a única resposta é pôr fim a elas com uma violência avassaladora. Haveria outra solução?
Um discurso emocionante que demonstra por que a Ficção Científica é uma literatura de ideias, que sob todo o verniz de entretenimento é capaz de discutir assuntos tão complexos.
A lista completa dos vencedores e indicados está aqui.
Terminada a premiação, é hora de festa. No dia seguinte, ainda tem alguns painéis e a cerimônia de encerramento, e é hora de começar a pensar em Chengdu 2023.
